Mulheres negras e brancas e as desigualdades em saúde, racismo como determinante social*

As desigualdades no Brasil fazem parte da formação histórica, das dinâmicas da sociedade e de suas estruturas. Há uma espécie de lógica estabelecida na sociedade que produz e mantém, ao longo da historia, hierarquias, possibilidades e lugares sociais.

Autoras – Emanuelle F. Goes e Enilda R. do Nascimento

Tais desigualdades se manifestam frequentemente em estereótipos e nas intolerâncias polarizadas em torno da raça/cor, assim como nas relações de gênero e outras diversidades sociais, pois as relações raciais estão enraizadas na vida social do indivíduo, grupos e classes sociais, afetando-o.

E as barreiras geradas pelas desigualdades raciais e pelo racismo são determinantes para o processo de saúde e doença das mulheres, especificamente as mulheres negras. Estas barreiras geradas pelo racismo institucionalizado impedem a utilização e o acesso das mulheres negras aos serviços de saúde, quando comparadas com as brancas, uma vez que as iniquidades raciais na saúde privam e violam o direito ao acesso e às condições dignas de saúde.

O estudo tem como objetivo determinar os diferenciais das características sociodemográficas e de saúde em relação ao acesso dos serviços preventivos de mulheres na Bahia, segundo raça/cor. Trata-se de um estudo quantitativo, onde as variáveis categóricas foram descritas por meio de distribuições de frequências (uni e bi variadas). Para verificar as diferenças entre as proporções foram utilizados os testes estatísticos Qui-quadrado de Pearson ou o Exato de Fischer (quando necessário).

Sobre os resultados obtidos pode ser observado que o acesso em relação à raça/cor foi observado que para o acesso considerado bom as mulheres brancas representam 15,4%, enquanto que as mulheres negras 7,9% do total e, para o acesso regular, o indicador é representado por mais de 10% das mulheres (11,8% brancas; 13,6% negras). E a relação entre o acesso, a raça/cor e os níveis de instrução revela redução do acesso entre as mulheres com menores níveis de instrução, pois as mulheres sem instrução 90,6% das mulheres negras e 92,8% das mulheres brancas não acessam o serviço.
O estudo evidenciou que, em alguma medida, o racismo e as desigualdades raciais surgem como barreiras no acesso aos serviços preventivos para a saúde das mulheres negras. E que as desigualdades raciais são determinantes sociais na saúde, que impactam nas condições de vida e no processo de adoecimento.

*Trabalho apresentado no 10º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, Porto Alegre, 2012. Publicado nos Anais de Resumo do Congresso

 

 

Fonte: População Negra e Saúde

+ sobre o tema

PEC das Domésticas tem sete itens que precisam ser regulamentados

  Relator da proposta, Romero Jucá, afirma que é importante...

Diálogos Feministas: Análise de conjuntura e desafios para a defesa da democracia

Esta publicação traz uma síntese do debate realizado: uma...

Recuo em nome do conservadorismo

A Rede Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos...

para lembrar

Machismo na universidade: as putas que “dão trabalho”

Fotos: Ana Lucena e Paula Guimarães "Puta" está entre os...

“Julho das Pretas” Enfrentamento ao racismo, fim da violência e pelo bem viver

O “Julho das Pretas” está na quinta edição de...

Benedita da Silva: ‘agora, nós mulheres queremos ser votadas’

Ao assumir o governo do Rio de Janeiro em...

“Eu realmente queria ouro e estou orgulhosa”, diz Rebeca Andrade

A ginasta Rebeca Andrade tornou-se a atleta olímpica mais...
spot_imgspot_img

A representatividade de mulheres negras na área de tecnologia e inovação

As mulheres negras estão entre os piores índices no que diz respeito a tecnologia e inovação no Brasil, atualmente. A PretaLab — plataforma de...

A Deusa do Ébano é o título mais relevante do Carnaval de Salvador

A 44ª Noite da Beleza Negra, realizada no sábado (15), na Senzala do Barro Preto, no bairro do Curuzu, em Salvador, foi marcada pela...

Beatriz Nascimento, mulher negra atlântica, deixou legado de muitas lutas

Em "Uma História Feita por Mãos Negras" (ed.Zahar, organização Alex Ratts), Beatriz Nascimento partilha suas angústias como mulher negra, militante e ativista, numa sociedade onde o racismo, de...
-+=