Você pode não ouvir, não conseguir ver, mas dentro de casa uma mulher pode estar sendo humilhada, agredida, com medo de morrer, e sem conseguir pedir ajuda. A pandemia afastou mulheres da família e do convívio social, aproximou muitas de seus agressores e dificultou ainda mais a possibilidade de denúncia.
“Ele não me deixa sair de casa e, quando for para sair de casa, tinha que só ser com ele. Eu não podia sair só”, conta uma vítima.
Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgados esta semana, o número de registros em delegacias de mulheres vítimas de violência doméstica caiu ano passado. Foram 246.664 em 2019 e 230.160 em 2020. Ao mesmo tempo, os telefonemas para o 190, o número da polícia, aumentaram 16,3%.
Mas muitas são impedidas pelo agressor de pegar no celular, e precisam encontrar um outro jeito de pedir socorro.
“Eu esperei uma oportunidade de ele sair comigo. Então, surgiu essa oportunidade quando foi sacar o dinheiro do Bolsa Família. Foi no dia primeiro de fevereiro. A gente foi na Caixa Econômica. Esperei o momento de entrar no caixa. E lá eu pedi um papel. A pessoa falou que não tinha papel. Então vi uns papéis amassados. Do que eu peguei o papel amassado e eu escrevi: “Você pode me ajudar, por favor?”. Aí eu escrevi o x de sofrência doméstica. Ele está aí fora”, lembra a vítima.
Para ajudar mulheres com dificuldade de denunciar os agressores, a Associação dos Magistrados Brasileiros criou a campanha “sinal vermelho contra a violência doméstica”. E como funciona? Com uma caneta ou até mesmo um batom, a vítima procura uma farmácia e faz um x vermelho na palma da mão. O atendente entende que ela está em apuros, pede o nome e endereço da mulher e chama a polícia.