Ninguém morre pronto – Por Fernanda Pompeu

Não existem vantagens aparentes em envelhecer. Vamos perdendo a energia física, o viço da pele, a água dos olhos. Isso sem mencionar que nos tornamos “invisíveis” para as pessoas muito jovens.

Tiro por mim mesma, estou a um mês de completar meus 58 anos. Nossa, 58 natais, 58 carnavais, 58 setes de setembro, 58 velinhas! E quando penso que em míseros dois anos terei 60, aí o espanto se expande.

Mas se houver gente jovem me lendo, digo: envelhecer é inexorável, o único antídoto é morrer jovem. Como ninguém quer morrer, ficar velho vai acontecer com você! E a coisa é bastante rápida!

No entanto há uma vantagem maravilhosa em acrescentar anos ao currículo de vida. A vantagem de mudar muitas vezes de foco, opinião, comportamento, atitudes. Já perdi a conta de quantas Fernandas fui.

Fui a Fernanda sonhadora, cética, ideológica, pragmática, analítica, linear, digital, doce, amarga, confiante, insegura. Fui a Fernanda que imaginou que mudaria o mundo e também a de cabeça e mãos vazias.

Daí, conclui que sou mesmo uma metamorfose ambulante, emprestando a expressão do baiano genial Raul Seixas (1945-1989). E creio, de verdade, que a maioria dos que estão envelhecendo são seres mutantes o tempo todo.
Pois quem provou do mel, sabe do sal. Quem adorou um ídolo, sabe da decepção. Quem subiu aos ares, já desceu ao chão. Quem caiu no buraco, conseguiu sair dele. Tudo isso muitas vezes. Alguns fizeram ao saltos. Outros, lentamente.

Saber-se é outra vantagem do envelhecer. Mas a maior de todas é o aprender e o aprender-se. Compreender que se ganha muitas guerras, mas nunca todas. Saborear, mesmo que com dentes de porcelana, a deliciosa palavra humildade.

Humildade para aprender com a garotada que tem dificuldade de nos ver, mas olha para as coisas do mundo com uma sede nova.

Habita o ambiente digital com familiaridade de causar inveja. E, principalmente, deseja um mundo mais participativo.

Enfim, bem-vindo 58 anos! Vou seguir na sala de aula, mesmo que ela seja a céu aberto, digital, móvel, heterodoxa. Mesmo que os bancos sejam os do metrô. E os quadros-negros sejam as ruas.

Fonte: Yahoo

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