No ar como a trambiqueira Sheila em ‘O dentista mascarado’, Taís Araújo afirma: ‘o humor expõe’

Foi depois do nascimento de João Vicente, seu primeiro filho, com o ator Lázaro Ramos, em junho de 2011, que Taís Araújo parou para analisar os rumos de sua carreira. Na frente das câmeras desde os 16 anos, quando protagonizou “Xica da Silva”, na Manchete, a atriz conta que a maternidade a fez refletir sobre questões como “o que quero artisticamente de mim?”, “que tipo de atriz quero ser?”, “para onde quero ir?” e “com quem quero falar?”. E ela garante: até hoje está em busca das respostas.

— Comecei muito nova, e a vida foi me levando, levando… Imagina, minha família não é atores! Sou filha de pai economista e mãe pedagoga. Esse caminho artístico é algo novo. Meu olhar mudou muito, obviamente por causa do Lázaro também. Ainda estou descobrindo e, com certeza, estou mais seletiva. Mas até então não tinha nem ideia dessas questões — analisa a atriz, enquanto dá mordiscadas num pão na chapa, num café no Jardim Botânico.

Embora todas essas dúvidas não tenham sido elucidadas, de fato, a reflexão de Taís vem apresentando um resultado positivo. Pelo menos até agora. Após receber críticas positivas na pele da empreguete Penha em “Cheias de charme”, seu lado comediante tem se mostrado aflorado em “O dentista mascarado”, série exibida na Globo às sextas, às 23h20m. É ali, em meio a humoristas tarimbados como Marcelo Adnet e Leandro Hassum e atores como Diogo Vilela, que ela mostra uma faceta ainda pouco conhecida ao telespectador como a garota de programa Sheila. E, confessa: a experiência não tem sido nada fácil.

— Assim que li a sinopse, achei imperdível estar com esses caras, com esse diretor (José Alvarenga), interpretando um texto dessa dupla(Fernanda Young e Alexandre Machado). Mas não tenho ideia de como fazer. Inevitavelmente, entro em cena com medo, todos os dias. Não sei como fazer piada física, como caras e bocas, então confio no Alvarenga — diz.

Por isso, Taís conta, estar no programa a fez perder o medo do ridículo. Após levar mordidas no bumbum e proferir palavrões e frases de duplo sentido como “quase engasguei com seu cálculo renal”, ela classifica a atual experiência como “libertadora”.

— Nas primeiras gravações, só pensava: “como estou exposta”. Porque o humor expõe. E se você não se liberar para essa exposição, não rola. Não pode ter pudor, sabe? Tenho certeza que essa liberdade que estou conquistando será fundamental para o resto da minha carreira — prevê.

É inegável que, ao longo desses quase 20 anos, Taís vem conquistando cada vez mais em sua trajetória. Foi a primeira protagonista negra da TV em “Da cor do pecado”, de 2004. Em 2009, viveu a primeira protagonista negra do horário nobre como a Helena de “Viver a vida”. Apesar de reconhecer a importância dos títulos, ela revela: não quer mais saber de quebrar barreiras.

— Não é algo que ignoro, mas o protagonismo não me interessa mais, sabe? O que procuro é a sabedoria de pegar uma sinopse e analisar se aquele papel será bom ou ruim. E, como negra, o que quero é mostrar um bom trabalho e abrir espaço para tanta gente boa que está por aí — ressalta. — Acho que as coisas vêm mudando vagarosamente. Faltam criadores negros. Gente para contar a história com o nosso olhar. Mas acredito nessa boa geração que está vindo.

Junto com as quebras de tabu vieram também as críticas. E não foram poucas, ela relembra. Durante sua fase como Helena, recebeu toda “a vaia que precisava e que podia na vida”. Trauma só superado, ela comenta, com a ajuda da análise, que faz há seis anos.

— Amor, só saí viva por causa disso. Fui espinafrada, beirava a falta de respeito. O artista quer o aplauso o tempo todo, e, na próxima vez que a vaia vier, já estou preparada. Não digo que estou blindada, mas não é mais novidade — observa ela, contando que aprendeu, na cara dura, a ignorar as críticas ruins. — Fazer televisão no Brasil é igual a jogar na seleção brasileira. Todo mundo é técnico. A pessoa vira para você na rua e diz que você é péssima. E a vontade de mandar ela praquele lugar? Eu perguntei o que ela achava, afinal? — desabafa. — Mas tem o outro lado: você não é o centro do mundo. Achar que uma novela que envolve 300 pessoas fracassou ou fez sucesso por sua culpa é muita pretensão, né?

Desde essa época, a vontade de “sucumbir” aparece todos os dias. Seja na forma de cansaço ou na falta de tempo para ficar com o filho, atualmente com 1 ano e 10 meses.

— Penso em largar tudo diariamente — enfatiza. — Porque é pesado, é puxado. Porque exige muito. Mas também não sei fazer mais nada. Amor, nem vender pastel eu sei — exagera Taís, formada em Jornalismo.

E se o sentimento vem com toda a força, ele se esvai quando a atriz tem a oportunidade de assistir a uma boa peça de teatro. Ela conta que o “trabalho dos colegas alimenta a alma” e a faz esquecer do eterno estado de cansaço em que vive.

— Nem vejo a galera que trabalha lá em casa. Acordo cedo, chego tarde e vou brincar com meu filho. Quando ele dorme, aí que vou estudar, ver um filme de referência. Agora, com a série, consigo ter sábados e domingos, o que é ótimo. E todo tempo que tenho, passo com Jovi — comemora ela, que está gravando o nono de uma leva de 13 episódios.

O descanso, porém, ainda está longe. Após terminar as gravações, Taís segue, no fim do ano, para uma temporada paulista com sua peça “Caixa de areia”, que acabou de encerrar a temporada no Rio. Depois, quem sabe, pretende voltar às novelas. Enquanto isso, o cabelo, curtinho desde janeiro, tem tempo de crescer.

— Apesar de ótimo para a série, esse visual é limitador. É muito bom, porque aquele cabelo enorme dá um trabalho horroroso. Foi algo que sempre quis, e estou satisfeita — conta ela que, sem avisar ao empresário, mandou um e-mail para a L’Óreal (empresa da qual é garota-propaganda) propondo a mudança no visual.

O visual, ela conta, foi inspirado na personagem de Mia Farrow em “O bebê de Rosemary, longa a que assistiu como inspiração para a peça que está encenando atualmente:

— Já venho tentando vender essa ideia há muito tempo. Sorte que eles (a empresa que ela anuncia) gostaram!

E, no fim das contas, o estilo serviu bem para a trambiqueira Sheila que, quando não está disfarçada, tem um lado bem “menininho”.

— Ela é criada na rua. Uma típica brasileira, que tem sempre aquele jeitinho para tudo e sabe como seduzir. Eu adoro a Sheila, acho ela ridícula! — diverte-se Taís, que ainda não conseguiu encontrar o limite da personagem. — Acho que ela não tem! Já tenho até um bordão. Quando a cena termina, eu falo: “Humilhada!”. E a equipe toda repete! (risos) — completa a atriz, que descreve seu humor como sarcástico.

Com um figurino que valoriza suas formas, Taís conta que sua única preocupação foi não mostrar pele demais em cena. Pedido prontamente aceito pela figurinista Ellen Millet.

— Taís é o máximo, uma atriz muito disponível. Ela tem um corpaço e optei por priorizar o conforto em cena — explica Ellen, que mantém a parceria com o diretor José Alvarenga há 15 anos.

Ela revela, também, que a ideia dos disfarces surgiu por acaso. Após selecionar algumas fantasias para Taís, Ellen resolveu testar várias perucas para ver qual combinaria mais com a atriz. E não é que todas ficaram bem?

— Aí resolvemos explorar essas várias faces. Ela usa tudo o que está na moda: imita Beyoncé, Madonna e também a Suellen, vivida por Isis Valverde em “Avenida Brasil” — explica Ellen.

Para chegar ao figurino, que mistura peças de grife com falsificações grosseiras, Ellen fez um mix com itens de brechó, da Saara, do Leblon, de Nova York, de Madureira e do acervo da Globo. Segundo Taís, os disfarces lhe dão um despudor ainda maior e ajudam a criar “um personagem dentro da personagem”.

— Ah, agora mesmo vou gravar com uma lente verde e uma roupa de oncinha. Brincamos que, quanto pior, melhor. É uma diversão! — empolga-se, acrescentando que o mais difícil é manter a concentração em cena diante das bobagens ditas pelos colegas: — Quando a gente se junta, parece que somos crianças no colégio.

 

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