No Rio, Dilma diz que FHC deixou o Brasil de joelhos

Por: Flávia Salme

RIO – O clima de cordialidade entre os pré-candidatos à Presidência José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) dá sinais de que chega ao fim. Segunda-feira, durante almoço com prefeitos do estado do Rio de Janeiro, Dilma respondeu aos ataques que tem recebido dos tucanos, como os registrados no sábado durante o lançamento da pré-candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin para o governo de São Paulo. Na ocasião, Dilma foi chamada de “inexperiente”, e o PT, de “aventureiro”.

 

– Muita gente fala “ela é inexperiente”. De fato, nunca disputei uma eleição. Mas tenho uma longa trajetória de serviços prestados ao Brasil. Comecei minha vida pública como secretária de Fazenda da prefeitura de Porto Alegre (RS), na pior fase do país, em 1985, quando não havia dinheiro para nada – devolveu.

 

Embalada pelo coro “olê, olá, Dilma, Dilma”, puxado pelos prefeitos presentes no evento (segundo os organizadores, compareceram 86, do total de 92 municípios), a petista também revidou as críticas dos tucanos que acusam o governo Lula de “só ter dado continuidade ao governo anterior (de Fernando Henrique Cardoso)”.

 

– É mentira! No governo anterior, o Brasil estava de joelhos e precisava pedir ajuda ao fundo internacional. Antes o Brasil quebrava, hoje não quebra mais – afirmou.

A ex-ministra finalizou o discurso aproveitando como deixa o mote da pré-campanha de Serra (O Brasil pode mais):

 

– Eles dizem que é preciso olhar para o futuro, porque o país pode mais. Nós podemos olhar para o futuro, porque criamos oportunidades no presente. Entramos na era da cabeça erguida – disse Dilma.

 

Enquanto rebatia críticas, Dilma aproveitou para afagar os prefeitos que almoçavam em uma churrascaria na Baixada Fluminense.

 

– A relação com os municípios foi muito respeitada pelo presidente Lula, fizemos muitas parcerias. No Rio de Janeiro temos os melhores exemplos – falou, enquanto citava programas como PAC, Minha Casa Minha Vida e Bolsa Família.

 

Divergência sobre BC

Sobre comentários feitos segunda-feira por Serra, que afirmou que o Banco Central não é “Santa Sé”, e que que “eventuais erros da equipe econômica devem ser apontados”, Dilma respondeu:

– Acho importantíssima a autonomia operacional que o Banco Central teve no governo do presidente Lula. Em time que está ganhando, não se mexe.

 

Autoridades pedem desculpas por censura

O evento que reuniu cerca de 240 pessoas, entre prefeitos, deputados e pré-candidatos ao Senado, em uma churrascaria em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, não foi aberto à imprensa. Jornalistas foram direcionados a uma área cercada por grades, na frente da churrascaria, sem acesso a qualquer áudio ou imagem do acontecimento.

 

Para saber o que a pré-candidata petista dizia aos colaboradores e futuros aliados, só restava tentar quebrar o bloqueio montado pela segurança. A equipe do Jornal do Brasil conseguiu entrar, por duas vezes, já que os seguranças esqueceram de cercar o acesso à cozinha do estabelecimento. Profissionais de outros três jornais impressos e de um site também passaram pelo cerco. Porém, puxados pelos braços, dois deles tiveram de deixar o local.

 

Na segunda tentativa de descobrir o que Dilma dizia, o JB se acomodou no banheiro da churrascaria, a portas fechadas. Pouco depois, duas assessoras do pré-candidato ao Senado pelo PT Lindberg Farias esmurraram a porta, ameaçando:

 

– Sabemos que você está aí, saia ou vamos chamar a segurança para tirar você daqui.

 

Convite feito e aceito. Do lado de fora, dezenas de jornalistas buscavam frestas nas janelas da churrascaria para ouvir o que era dito por Dilma e seus apoiadores. Foram rispidamente retirados do local pelos seguranças do governo do estado do Rio, apesar de terem gritado “censura!”. Ao ser informado, Cabral se desculpou:

 

– Os seguranças são do estado, não do evento. Eu jamais permitiria esse tipo de coisa. Peço desculpas a vocês.

 

Dilma seguiu o exemplo:

– Também me desculpo por isso.

O presidente regional do PT, Luiz Sérgio, garantiu que, como um dos organizadores do almoço, não fez qualquer tipo de determinação para que a imprensa fosse barrada.

– Como presidente do PT-RJ devo pedir desculpas.

Ao ser informado de que profissionais de sua assessoria tinham liderado a censura aos jornalistas, o pré-candidato petista ao Senado mostrou-se surpreso:

– Não pedi a ninguém que barrasse a imprensa. Se fizeram isso, erraram – disse Lindberg.

Já suas assessoras explicaram, após a confusão, que atendiam a um pedido da assessoria da ex-ministra Dilma Rousseff, que teria determinado que os jornalistas ficassem de fora por falta de espaço. De fato, a churrascaria estava lotada. As janelas do lado de fora, não.

 

 

Fonte: Terra

 

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