“A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.”
– prof. Andrew Oitke, catedrático de Antropologia em Harvard
O grande problema que vejo nessa questão sobre como a mídia age, é constatar que o brasileiro médio acredita que ela é isenta, “fiscaliza” o governo, quer o bem de toda sociedade, e é imperiosa para a democracia. O paradigma é o jornalismo americano!
Nunca me esqueci de Catharine Graham em seu premiado (Pulitzer) livro auto biográfico “Uma história pessoal”, em várias partes do livro se auto enganando (ou não?). Passa boa parte do livro tentando convencer o leitor de fazer um jornalismo “independente e isento” no seu Washington Post, e ao mesmo tempo contando sobre a linha de ajuda escancarada nas campanhas de Kennedy e Lyndon Johnson. O jornal funcionava quase como um comitê partidário democrata. Ela sempre terminava com um singelo: – acho que interferimos mais do que gostaríamos na campanha… Uma esbórnia! E cá entre nós, o Pulitzer foi demais para aquele livro meio xoxo (mas não de todo ruim), só venceu por causa do “peito” que ela demonstrou ao lidar com Watergate e a crueza com que encarou o suicídio do marido.
Já na Europa a “coisa é mais mexida”, os jornais assumem suas preferências políticas e partem para a defesa dos interesses políticos em que acreditam ou que lhes convém. Mas também há muito “mimetismo” de informação, o estilo Murdoch de jornalismo fez escola no mundo todo.
Eu acredito que o papel da imprensa enquanto agente de informação possível, voltado realmente para a cidadania, ciência e entretenimento, só se dará com pulverização, ou seja, fim dos oligopólios, monopólios, fim da propriedade cruzada, e uma lei de direito de resposta clara e rápida (aliás o capitalismo também fica melhorzinho assim).
O jornal PODE E DEVE ter opinião, isto deve sempre ficar claro, mas meu texto é crítico ao leitor médio que PENSA que as notícias que lê são a mais pura expressão da verdade, mas NÃO SÃO. O brasileiro médio acredita na “imprensa isenta, factual e apolítica”, um condicionamento adquirido em virtude do analfabetismo funcional e ausência de senso crítico do populacho mediano. O leitor brasileiro precisa elevar seu grau de senso crítico (e isso é difícil sem a já famosa educação), parar de acreditar em lorotas e meias verdades. Ele tem que ir sorver a informação, principalmente sobre política e economia (já repararam que só “consultores”, quer sejam, PJs empregados de banqueiros, falam sobre economia?), em várias fontes da imprensa. Por outro lado, o que não pode acontecer jamais, é a censura de conteúdos, embora haja uma “zona nebulosa” na questão de incitação à violência, que precisa sempre de clareza legal.
O ideal é que se vá desde a “grande” imprensa, até a pequena como os vários blogs existentes na internet, que são pouco produtores de conteúdo, visto não disporem de grandes recursos financeiros, mas muitas vezes conseguem “furar” o pensamento único da velha imprensa, com “checagens” e pesquisas facilmente acessíveis após a “abertura da caixa de pandora” efetuada pela reportagem “com viés”. Quer seja, é sempre necessário checar outras fontes e ângulos, ouvir a outra parte DANDO O MESMO ESPAÇO, etc.
Enfim para que se alcance um bom grau de progresso cidadão e civilizatório no Brasil, é necessário que se desenvolvam políticas públicas educacionais que vão além da escola voltada para o mercado, com o devido reforço nas disciplinas da área de humanas tais como filosofia, história, sociologia, antropologia, e a devida “polida” no português, principalmente aprender a interpretação de textos. Sei que os “tecnicistas” torcem o nariz para essas ideias, mas conheço ótimas pessoas com sólida “formação técnica”, talvez acostumados demais com pensamento cartesiano, que não fazem a menor ideia do quanto são enganados por “verdades” de mentira.
Sérgio Troncoso
Fonte: Luis Nassif Online