O fetiche das tecnologias de comunicação contemporâneas

Sou do tempo das cavernas. Tudo porque não tenho celular

por: Fátima Oliveira

Usufruo bastante das benesses tecnológicas da contemporaneidade, que considero essenciais ao meu modo de estar no mundo. Todavia, de uns tempos para cá, tenho a impressão de que, para algumas pessoas, sou do tempo das cavernas. Tudo porque não tenho celular! Nada de ludita. Apenas defendo para meu consumo pessoal o uso racional da tecnologia – uma subjetividade e um modo de simplificar minha vida.

Todavia, para muita gente, é estranhíssimo eu não ter celular. “Você está sem celular, né?” Nããão! Não é que estou sem, é que não tenho! Já tive e enjoei. Era um desassossego. Há alguns anos, meu celular foi levado por um garoto na porta do meu prédio. Era Semana Santa e minha filharada toda estava viajando (alguém numa família precisa dar duro, é o esperado…). No sábado de Aleluia, eu chegava do plantão quando o celular tocou. Nem disse alô… Parecia que levaram um pedaço de mim. Na segunda-feira, comprei outro. Em dezembro de 2006, um bom ladrão hospitalar o levou.

Aproveitei e decidi ficar sem. A crise de abstinência foi dose! Hoje, gosto imensamente. Sinto-me empoderada. No começo, foi reclamação generalizada. Quase sucumbi à gritaria familiar. Mas aguentei o tranco. Não apenas o meu celular foi expropriado, recentemente alguém surrupiou o porco-fone da coordenação de plantão… Acreditam? É vero! E olhem que ele só recebia! Ganhamos um celular, pela primeira vez, no começo da epidemia de gripe suína, daí o apelido carinhoso. Acredito que hospital é o lugar em que mais roubam celular. Juro!

A população de celular é tão assustadora num hospital que até para examinar um doente é preciso pedir para desligar o celular e ainda ficar aturando cada cara feia! Sem falar que muitas vezes é preciso pedir também para vizinhos e acompanhantes, que estão ao lado no maior papão. E ainda ouvir um monte de desaforos. Não encontro palavra mais adequada: é o caos do fetiche do celular!

Um dia, entrei na sala de emergência, na prática um CTI, quando dois celulares tocaram ao mesmo tempo. Teoricamente, nenhuma pessoa doente ali deve portar um celular, mas para minha surpresa dois doentes graves os atenderam numa boa, mesmo ofegantes. E de repente tocou outro! Era de outro doente, que só não o atendeu porque estava “entubado”, mas seus olhos se abriram de uma forma tão pidona que quase atendi o celular pra ele! De repente, toca outro celular com aquelas músicas que até Deus duvida da breguice impertinente. Era o celular de um dos doentes que, todo lampeiro, falava em outro celular! Ai foi demais…

Autoridade tem de pintar numa hora assim, não é? “Geeeente, assim não dá! Se todo mundo aqui pode atender celular, vamos dar o lugar para outras pessoas mais graves!” Quem vai imaginar que um doente grave não se desgruda do seu celular, ou dos seus celulares? E olhe que fazemos revista em todo mundo que chega lá e guardamos os celulares. Se num CTI é assim, faça ideia nas enfermarias…

Internet? Gosto. Sou facilmente encontrável por e-mail. Enquanto escrevo deixo abertos os e-mails que não permitem conversas em tempo real. Quando quero dou uma olhada. Mas Orkut, MSN e similares, nããão! Tenho a sensação de perda de tempo com mensagens em tempo real, que possuem suas bondades, mas é preciso ficar ligado só naquilo. O e-mail, acessamos quando desejamos. Twitter? Acho dispensável para a minha vida no momento, mas estou encantada com as possibilidades de twitteratura.

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