“O problema do Brasil são as pessoas ricas”, diz Sonia Braga em Cannes

Junto a parte do elenco e equipe de Aquarius, a atriz Sonia Braga e o cineasta pernambucano Kleber Mendonça cederam nesta quarta-feira (18) uma entrevista coletiva sobre o longa que concorre ao Palma de Ouro. Além de falarem sobre o que a obra representa dentro do contexto social brasileiro, trataram também sobre o protesto político feito ontem no tapete vermelho. A crítica internacional recebeu o filme positivamente e não poupou elogios à protagonista.

Do Assiste Brasil

Em Aquarius, Sonia interpreta Clara, moradora de um antigo prédio à beira-mar na Avenida Boa Viagem. No filme, ela negocia com uma construtora que quer adquirir seu apartamento para demolir o prédio e dar lugar a um novo empreendimento. Apesar de todos os moradores terem confirmado a venda, Clara resiste deixando claro que não pretende vendê-lo. Ela terá que enfrentar todo tipo de assédio e ameaças para que mude de ideia.

A atriz explica que, para ela, o edifício Aquarius não é apenas uma estrutura física, sem vida. Ele na verdade assume a função de personagem na trama e representa um país: o Brasil. “Sinto como se Kleber tivesse me dado as palavras para expressar algo que estava me sufocando a respeito do meu país. Não há nada de errado com as pessoas pobres. O problema do Brasil são as pessoas ricas”, disse Sonia em referência à fala de sua personagem em Aquarius quando um jovem engenheiro tenta despejá-la.

O diretor Kleber Mendonça Filho compartilhou o seu fascínio em revelar às pessoas a realidade através do cinema e fazê-las refletir. “É um filme sobre resistência, um pouco sobre sobrevivência, e sobre o limite que você alcança para sobreviver. E isso te dá mais energia para ir além. Sonia entendeu isso muito bem. É tentar defender a si mesma e ao mesmo tempo reagir”, comentou.

Assim como em O Som ao Redor, Kleber Mendonça Filho utilizou a cidade do Recife como plano de fundo de seu filme, trazendo ao debate questões políticas e cotidianas. “Os segredos dos lugares funcionam muito bem dramaticamente. Alguns diretores são associados a lugares. Assim como Woody Allen, Martin Scorsese e Spike Lee são sempre associados a Nova York, eu quero ser associado ao Recife”.

“Un coup d’état a eu lieu au brésil”

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Na passagem da equipe de Aquarius pelo tapete vermelho no Festival de Cannes, um protesto político. Levantando papéis que denunciavam a caos político e o Golpe de Estado em curso no país, o ato teve repercussão internacional, sendo destaque nos principais veículos do mundo. “Decidimos fazer algo. Não seria algo barulhento. Basicamente, pegamos pequenos pedaços de papel e escrevemos pequenas mensagens sobre o que está acontecendo no Brasil”, disse Kleber.

Sobre a repercussão do ato na mídia brasileira, o diretor disse que, para ele, a mídia pareceu “assustada com o nosso simples gesto de retirar pedaços de papel do bolso”. “O Brasil vive uma divisão dramática. No lado da direita, existem traços de fascismo e ideias chocantes. O Ministério da Cultura foi extinto. Estamos aqui em Cannes por causa de investimentos honestos garantidos por políticas públicas”, completou.

Sonia Braga apoiou a iniciativa de utilizar o Festival de Cannes como meio para divulgar o que está acontecendo no Brasil. “Estamos falando disso no Facebook o tempo inteiro. O Brasil está dividido agora. Essa divisão não havia acontecido desde que o Brasil voltou a ser uma democracia após a ditadura”, explica.

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