Após mais um caso de racismo na Faculdade Mackenzie, a instituição resolveu se pronunciar
porJonas Carvalho, do Catraca Livre
O racismo sofrido por Alba Cristina no curso de Direito da Faculdade Mackenzie é apenas um dos milhares que atingem a população negrabrasileira.
Na última quinta-feira, 8, o Catraca Livre noticiou o caso. Negra, Alba relatou que outra aluna se referiu a ela como “macaca” em uma aula, ao mesmo tempo em que outros estudantes presentes na sala começaram a rir. A vítima da frase racista não estava lá para se defender, mas foi avisada depois por duas pessoas que presenciaram o fato.
Por causa deste e de outros episódios, como indiretas e o distanciamento dos colegas de turma, Alba acabou pedindo o desligamento do Mackenzie e a transferência para outra universidade.
“Eu, Alba Cristina, sou mais uma em muitos que sofrem ataques raciais todos os dias, só que isso não irá parar a nossa garra, nossa luta. Não irei abaixar a cabeça para essas pessoas”, escreveu ela no Facebook.
Depois da grande repercussão do caso, a Mackenzie resolveu ir além do pronunciamento oficial que publicou no dia 7 (classificado de “uma nota totalmente superficial” por Alba) e responder aos questionamentos de nossa reportagem sobre combate ao racismo e sobre o caso da estudante de Direito.
“A Faculdade Mackenzie Rio abriu uma sindicância para apurar a circunstância em que teria ocorrido o episódio entre duas alunas da instituição. Todos os envolvidos estão sendo ouvidos”, afirma a instituição, por meio de sua assessoria de imprensa.
Ela destaca que “trata-se de um fato isolado incompatível com os princípios da instituição”.
Não é a mesma percepção do Coletivo Negro Afromack, que combate o racismo na unidade Mackenzie que fica em São Paulo. “São inúmeros os casos de racismo que chegam ao nosso conhecimento. Contudo, nem todos ganham a mídia ou mesmo são denunciados, muitas vezes por receio do que pode vir a acontecer com a vítima, como retaliações”, afirmou o grupo.
“São características dessas ações o constrangimento público das pessoas negras e o silêncio dos demais nesses casos, o que corrobora para o receio de denunciar tais casos”, complementam.
Quando questionada sobre quais medidas promove em prol da igualdade racial, a Mackenzie lista seis ações, todas a partir de 2015, entre elas quatro ciclos de debates, uma palestra e um único projeto, o “Incluir Direito”, “que visa promover a maior participação da população negra no universo jurídico e desenvolver uma atuação coerente e afirmativa, que contribua para a redução das desigualdades e da discriminação”.
Esta é a lista enviada pela Mackenzie
20 de abril de 2017 – O Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Direitos e Diversidades (NEPEDD), a Coordenação de Pesquisas e Extensão da Faculdade Mackenzie Rio e o Núcleo de Educação Continuada, convidou professores e alunos e pessoas interessadas, para uma série de debates com objetivo de colaborar com as ações de Combate aos preconceitos e ao racismo na sociedade brasileira, com vistas às demandas que emergem por força da Lei Federal 10.639/03 e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a implementação dessa lei.
13 de março de 2017 – A professora Glória, palestrante convidada, ministrou uma palestra sobre Cultura Afro, às 10h30m, e às 16h, no auditório da Faculdade Mackenzie Rio.
7 de junho de 2016 – O Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Direitos e Diversidades (NEPEDD), a Coordenação de Pesquisas e Extensão da Faculdade Presbiteriana Mackenzie convidaram os professores, alunos e pessoas interessadas para uma série de debates, no dia 7 de junho, às 18h30m, sobre racismo e preconceito. O objetivo principal do encontro desse encontro foi colaborar com as ações de combate ao preconceito e ao racismo na sociedade brasileira, com vistas às demandas que emergem por força da Lei Federal 10.639/03 e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a implementação dessa lei. Neste encontro, o tema abordado foi a Falácia Religiosa nas questões raciais.
5 de setembro de 2016 – Ciclo de Debates: Fórum Permanente de Combate ao Racismo e ao Preconceito. O Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Direitos e Diversidades (NEPEDD), a Coordenação de Pesquisas e Extensão da Faculdade Presbiteriana Mackenzie convidaram professores, alunos e pessoas interessadas para um ciclo de debates, com o objetivo de colaborar com as ações de combate ao preconceito e ao racismo na sociedade.
10 de agosto de 2015 – Ciclo de debates: Combate ao racismo. O Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Direitos e Diversidades (NEPEDD), em conjunto com a Coordenação de Pesquisas e Extensão da Faculdade Mackenzie Rio e o Núcleo de Educação Continuada realizaram um ciclo de debates sobre a luta contra o racismo e o preconceito presentes em nossa sociedade brasileira.
A Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, através da Faculdade de Direito, lançou o Projeto Incluir Direito em conjunto com o Centro de Estudos das Sociedades de Direito (CESA) e o Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) em abril de 2017.
Incluir Direito é fruto de um convênio assinado no final do ano passado pelas instituições, que visa promover a maior participação da população negra no universo jurídico e desenvolver uma atuação coerente e afirmativa, que contribua para a redução das desigualdades e da discriminação.
Na primeira fase o objetivo estão participando 10 alunos – entre homens e mulheres, que estão no segundo semestre do primeiro ano ao terceiro ano do curso de Direito da Faculdade de Direito do Mackenzie.
Com duração anual e atividades previstas para todo o período letivo de 2017, as entidades promotoras têm a expectativa que, ao final, os estudantes beneficiários participem de processos seletivos junto aos escritórios de advocacia vinculados ao CESA e garantam sua inserção profissional nos melhores postos de trabalho da área.
O Afromack afirma que a instituição é omissa e não tem o conhecimento necessário em relação a situações de racismo, mas que isso tem mudado.
“Há muito silêncio por parte da Instituição em relação a estes casos. Há também uma dificuldade em entender as demandas que cerca os alunos negros dentro desse espaço”, diz o coletivo.
“Contudo, depois de muita luta do Coletivo Negro Afromack e de muitos casos de racismo explícitos que ocorrem dentro do campus ganharem espaço na mídia, a posição da universidade vem mudando”.
Pessoas negras
As medidas informadas pelo Mackenzie parecem ainda ser ineficientes: em um país no qual 54% da população é negra, segundo o IBGE, os negros são apenas 13% dos alunos de graduação das quatro unidades da instituição (Higienópolis, Tamboré e Campinas, em São Paulo; e Rio de Janeiro), totalizando 3.933 alunos em um universo de 30.252 estudantes.
E quantas pessoas negras são professores, mestres ou estão no quadro de funcionários do Mackenzie? “Não temos esses dados”, diz a instituição.
Não há representatividade da população negra na instituição, mas ela representa bem o racismo que está na sociedade, de acordo com o Afromack:
“A universidade nada mais é do que a representação da nossa sociedade. É preciso entender que o racismo no nosso país é estrutural e institucional, como diversos intelectuais negros apontam. A academia foi inclusive um lugar de legitimação do racismo durante os últimos séculos”.
Eles apontam também a importância de ler autores e intelectuais negros, que não reproduzam o preconceito racial.
Além disso, o coletivo aponta ser fundamental que os estudantes negros se unam e denunciem situações racistas que passem nas universidades.
Alba já deu o exemplo.