ONGs PRA QUE?

Na mesma esteira do desmantelamento e privatização dos serviços públicos, a cada dia uma organização não-governamental fecha as suas portas ou reduz drasticamente os seus serviços prestados a uma população, formada em sua maior parte, de excluídos e invisíveis aos olhos do poder público.

A própria captação de recursos junto a financiadores internacionais, outrora uma saída, hoje se torna inviável, na medida que o governo propaga ufanisticamente, em escala mundial, a recente “pujança econômica”, a “distribuição de renda” e os programas sociais do Brasil, tornando-nos inelegíveis aos fundos internacionais. Ao mesmo tempo que os gastos e endividamento público crescem desenfreadamente e as exigências legais e tributárias se tornam mais rígidas, imputa-se às ONGs, cada vez mais, a expectativa de que essas arquem sozinhas com os altos custos da burocracia legal, encargos administrativos, aluguel, salários, equipamentos etc. e executem, de forma altamente qualificada, suas ações voluntariamente e sem custos .

No campo empresarial ou até mesmo no universo dos “famosos e celebridades global”, tornou-se hábito também a criação de Fundações, Institutos e “Projetos Sociais”, tornando-se naquilo que costumamos chamar de “ONGs de grife”, que, além do benefício próprio possibilitado pelos incentivos fiscais, vivem e se promovem a custa do próprio marketing e ainda, em muitos casos, sugam os parcos recursos dos Fundos Sociais.

Herbert José de Sousa, conhecido como Betinho, sociólogo e ativista dos direitos humanos no Brasil definia as organizações não-governamentais da seguinte forma:
“Uma ONG se define por sua vocação política, por sua positividade política: uma entidade sem fins de lucro cujo objetivo fundamental é desenvolver uma sociedade democrática, isto é, uma sociedade fundada nos valores da democracia – liberdade, igualdade, diversidade, participação e solidariedade. (…) As ONGs são comitês da cidadania e surgiram para ajudar a construir a sociedade democrática com que todos sonham”.

Estes espaços organizacionais do Terceiro Setor situados entre a esfera pública e a privada, identificados por alguns autores como públicos não estatais, cumprem papel relevante para a sociedade.

Na verdade, é preciso constatar que o surgimento dessas organizações, sem fins lucrativos, que têm como objetivo o desenvolvimento de atividades de interesse público, se deu pelo motivo da não eficiência, por parte do poder público, para o atender às necessidades da sociedade.
Experiências exitosas de fomento e apoio às ONGs, como foi o caso da criação do “Palácio das ONG” no RJ (*), se tornaram foco da cobiça de grupos e interesses políticos. Desde a criação da PALONG não foram poucas as tentativas de despejo, como, inclusive, acontece nesse momento.

Aos olhos menos atentos, no “Brasil maravilha” de hoje, não se faz mais necessária a existência e atuação de ONGs, Fundações e similares que têm como sua missão/visão principal o controle social e a luta por uma sociedade mais justa e igualitária. Em paralelo, um amplo e sistemático processo de desqualificação em relação às ONGs vem sendo fomentado junto à sociedade ao longo dos anos, nivelando por baixo, aos olhos da população, Instituições sérias e compromissadas, com instituições de fachada, geralmente vinculadas direta ou indiretamente, a autoridades públicas, criadas para absorver de forma ilícita os recursos públicos ainda disponíveis.

É um equivoco acreditar que as ONGs querem ocupar o lugar ou substituir o papel do estado, quando em verdade o que se deseja é um Estado democrático forte e a gestão de políticas públicas inclusivas que promovam a cidadania e os direitos humanos.

(*) Iniciativa do Governo Federal, por intermédio do Fundo Nacional de Assistência Social que, em 1999 ofereceu a cessão de uso do espaço ocioso e abandonado da antiga sede da Legião Brasileira de Assistência (LBA), no Rio de Janeiro, para uso por parte de um conjunto de 36 ONG de diferentes portes e perfis, enquadradas a partir de um conjunto de pré-requisitos e do compromisso de recuperação e conservação do patrimônio público. (www.palong.org.br)

Carlos Basilia
Observatório Tuberculose Brasil
Instituto Brasileiro de Inovações em Saúde Social – IBISS

 

Fonte: Carllosbem

+ sobre o tema

Trabalho escravo: governo inclui 248 empregadores em lista suja

O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) incluiu, nesta...

Idris Elba é mais um ator a testar positivo para coronavírus e está isolado

"Agora é a hora de se manter alerta, lavar...

Este cartaz não transmite o HIV, mas transmite informação (com vídeo)

"Se o preconceito é uma doença, a informação é...

para lembrar

A imprensa como o principal partido da oposição

O pensamento único, de direita, destilado diariamente pelos poucos...

A favela precisa ser vista e ouvida

A importância de um veículo da envergadura e da...

Caro recrutador, não me pergunte se tenho filhos

Aconteceu comigo mais de uma vez. A entrevista de...

Programa de comunicação abre edital para Curso de Multimídia

Geledés - Instituto da Mulher Negra abre edital para...
spot_imgspot_img

“Geledés é uma entidade comprometida com a transformação social”, diz embaixador do Brasil no Quênia

Em parceria com a Embaixada do Brasil no Quênia, Geledés - Instituto da Mulher Negra promoveu nesta sexta-feira 10, o evento “Emancipação Econômica da...

Caso Sônia é desastroso para combater trabalho escravo, alerta auditor

A história de Sônia Maria de Jesus, de 50 anos – que foi resgatada em uma operação contra o trabalho análogo à escravidão da...

Quatro em cada 10 moradias do país têm alguma inadequação básica

Quatro em cada 10 domicílios (41,2%) em cidades brasileiras apresentam inadequações como falta de energia, saneamento básico, banheiro exclusivo e armazenamento de água, além...
-+=