Lançado coincidentemente na semana em que se comemora o dia da consciência negra, O livro Os traços da hereditariedade: cor, raça e eugenia no Brasil, publicado pela Editora Prismas (380 páginas), é fruto da dissertação de mestrado de Leonardo Dallacqua de Carvalho, hoje doutorando em História das Ciências e da Saúde na Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. Defendida em 2014, na Universidade Estadual Paulista/UNESP, a pesquisa que gerou o livro é um convite para compreender a eugenia no Brasil, em especial, com enfoque na questão racial.
Por Gerson Pietta via Guest Post para o Portal Geledés
Dividida em quatro capítulos, o autor procurou trabalhar desde a gênese do pensamento de Francis Galton, cientista inglês que cunhou o termo eugenia, até sua recepção no Brasil e como foi articulada pelas intelligentsia nacional. Em destaque, deve-se ressaltar as fontes utilizadas pelo pesquisador, uma vez que analisou edições da revista de variedades Careta entre os anos de 1930- 1934 para situar a discussão no semanário sobre raça, cor e eugenia no Brasil. As análises foram feitas por meio de crônicas e caricaturas, o que presenteia o leitor com saborosas ilustrações e sugerem a visão do semanário acerca das questões raciais daquele período.
Uma das contribuições está justamente em perceber as posições de um periódico no que diz respeito a condição hierarquizada da sociedade brasileira onde o negro, o miscigenado e o amarelo estariam postados à margem da sociedade no nível educacional, econômico, político e etc.. Aliás, a eugenia estaria na membrana de parte desse discurso de segregação social, sobretudo, com o pensamento médico aliado as decisões políticas. A Careta, iria se posicionar fortemente contra as investidas da “padronização” dos tipos humanos.
Talvez, o que resuma bem a obra é parte do prefácio do professor Dr. Vanderlei Sebastião de Souza, um dos maiores especialistas sobre o tema da eugenia no Brasil:
Transitando com habilidade pela história intelectual brasileira, o livro Os traços da hereditariedade: cor, raça e eugenia no Brasil é, portanto, uma obra que conduz o leitor para um amplo debate sobre o modo como o discurso de intelectuais e cientistas intervem no mundo social, criando uma variedade de imagens, interpretações e estereótipos sobre o país e a identidade nacional. Mais importante que isso, o livro nos permite uma reflexão profunda sobre a centralidade da questão racial e os dilemas relacionados à cor e identidade na sociedade brasileira. Por último, é preciso destacar que o livro de Leonardo Dallacqua de Carvalho é uma dessas obras que desperta o gosto pela história e pelas interpretações que fundaram o Brasil, aguçando no leitor a crítica e a curiosidade pelo conhecimento de um capítulo importante na história das ciências e do pensamento social brasileiro.
O livro está disponível no site da Editora Prismas e, em breve, nas principais livrarias do país.
Gerson Pietta,
Mestre em História pela Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO/PR.