Pesquisa mostra ‘dificuldade de entender como o racismo se manifesta no cotidiano’

O Instituto Peregum e a Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista (Seta) promoveram, nesta sexta-feira (4), em São Paulo, um encontro para debater a pesquisa Percepções sobre o racismo no Brasil, produzido pelas organizações em parceria com o Ipec.

O levantamento mostra que 81% dos brasileiros consideram que o país é racista. Porém, quando perguntados se são racistas, apenas 11% admitem ter atitudes que se configuram racismo.

“Aqui, temos o ‘racismo cordial’, todo mundo entende que há racismo na sociedade, mas eu não sou racista, racistas são os outros. Agora, além do racismo cordial, há também a ‘discriminação cordial’, os negros acham que há muito racismo, mas eu nunca sofri. Interessante”, afirmou o professor, escritor e ativista Hélio Santos, que insistiu no tema, propondo um recorte.

“Nem os grupos mais progressistas assumem o racismo em seus espaços de convivência. Os brancos, no que se convencionou a chamar de espaços de esquerda, sempre foram aliados nossos, mas não podemos confundir os brancos progressistas conosco. A matriz da desigualdade racial no Brasil é a questão racial”, sentenciou Santos.

Um dos dados que concentrou mais a atenção dos debatedores foi sobre as formas de racismo se revela. Para 66% dos entrevistados, é a através da violência verbal, como xingamentos e ofensas; outros 42% entendem que é o tratamento desigual; 39% afirmam que é pela violência física; somente 28% entendem que seja por menos oportunidades. Este último dado, mereceu destaque, segundo Jaqueline Santos, coordenadora do projeto Seta.

“A pessoa vai fazer uma entrevista de emprego e talvez não tenha a percepção de como a questão racial está operando ali. Mas se ela consegue ver a dimensão de que aquela empresa tem 90% de funcionários brancos, vai entender porque não conseguiu entrar lá para uma função executiva ou administrativa”, explicou Jaqueline, para quem “há uma dificuldade de entender como o racismo se manifesta no cotidiano.”

“Vejam, dois terços dos entrevistados entendem que um xingamento é uma ofensa racial. Mas olhem, a desigualdade de oportunidades é algo que não chega para essas pessoas? Só 28% percebe isso. Ou seja, enquanto a criminalização do racismo nos remete ao código penal, o racismo estrutural é assunto de política pública”, provocou Hélio Santos. “Já disseram que eu não dou muita importância ao racismo ofensivo. Evidente que me importo, mas minha ênfase foi política pública, porque é a política pública que resolve problemas”, encerrou.

Diretora de Peregum, Vanessa Nascimento celebrou a oportunidade de fomentar novas iniciativas com os dados alcançados pela pesquisa. “O resultado desse levantamento é importante também para o instituto, porque trabalhamos com base em quatro eixos: educação popular, crime e cidade, proteção e cuidado e incidência política. Então, os resultados dessa política são importantes para elaborar estratégias de atuação para o movimento negro.”

+ sobre o tema

Mudanças climáticas e os impactos na saúde da população negra

Em 1989, Spike Lee lançou “Faça a Coisa Certa”,...

Servidora suspeita de injúria racial durante show é exonerada em MS

Uma servidora, de 49 anos, foi afastada de suas...

Um bispo nêgo brasileiro

Uma das primeiras coisas que somos apresentados quando iniciamos...

Documentário sobre bairro ‘japonês’ de São Paulo resgata memória negra

Com lançamento previsto para breve, na cidade de São...

para lembrar

A História do Racismo

 Como parte da comemoração do bicentenário da Lei de...

Projeto de deputado gaúcho pode punir torcedor racista com cinco anos fora dos estádios

A Câmara dos Deputados analisa o projeto de lei 7383/14,...

Campanha nacional de combate ao racismo é lançada

A Contracs e diversas entidades se uniram à CUT...

Revistas excluem adolescentes negras: ‘Estou no Brasil, mas me sinto na Rússia’

A pedido da BBC Brasil, a estudante de Jornalismo...
spot_imgspot_img

Servidora suspeita de injúria racial durante show é exonerada em MS

Uma servidora, de 49 anos, foi afastada de suas funções por suspeita de injúria racial contra a advogada Juliana Silva, de 32 anos, durante um show...

Brancos recebem 61,4% a mais do que negros por hora de trabalho no Brasil

Brancos receberam em média R$ 20 por hora de trabalho no Brasil em 2022, quantia 61,4% maior do que a de pretos ou pardos (R$ 12,4)....

Mais de 600 pessoas negras foram mortas em MT em 2021, aponta Atlas da Violência

Mato Grosso registrou 672 casos de homicídio contra pessoas negras no ano de 2021, segundo os dados do Atlas da Violência 2023, que foram...
-+=