Na última quarta-feira, mais dez PMs foram condenados pelo massacre ocorrido no Carandiru em outubro de 1992, quando 111 presos foram mortos. Cada um teve uma pena estipulada em 96 anos, com exceção de um que deverá “puxar” 104 anos. Até agora, 58 policiais foram condenados.
Também os três policiais que mataram Cláudia da Silva Ferreira e depois saíram arrastando seu corpo pelas ruas do Rio de Janeiro estão presos e certamente serão punidos.
O governador Sergio Cabral pediu desculpas e garantiu que considerava aquilo uma desumanidade, que isso não está no protocolo da polícia, que ações desse tipo são condenáveis, blablablá.
Como assim?
Dois dos três policiais militares cariocas presos possuem registros de homicídio decorrente de intervenção policial. Um como autor em 3 e o outro em 13 (!!) mortes. Mas os três juntos constam como envolvidos em 62 autos de resistência (mortes de suspeitos em confrontos com a polícia).
Se isso não é ‘modus operandi’ então não sei mais nada. E se há um padrão na atuação, é porque há instrução para tal procedimento.
Mas quem paga o pato?
Sempre que ocorre o flagrante de policiais no “cumprimento do seu dever”, são eles, e apenas eles, os condenados. Até quando será assim?
Talvez para sempre. Pois então que tal se policiais adotassem uma postura mais civilizada? Os soldados ainda não se deram conta de que as ordens são dadas mas se a casa cair a chefia acusa-os de ovelhas desgarradas? Por que não passam a agir apenas e unicamente de acordo com lei? Desse modo, além de menos mortes, começaríamos a ter alguma justiça, mínima que fosse.
Policiais precisam lembrar que, independentemente de estarem ou não trajando fardas, também são, primeiramente, civis. E que seu comportamento reflete no que estamos vendo quando populares passam a amarrar infratores nos postes e praticar linchamentos.
O professor de história e membro da Uneafro, Douglas Belchior, afirmou em entrevista que “o fato de o Estado ser o primeiro a propor soluções políticas violentas, contribui para que a sociedade repita a punição, a ideia de assassinatos como resposta aos conflitos sociais.”
Essa violência difundida e banalizada precisa da adesão de todos, todos, para começar a ser reduzida. Se essa ordem não vem de cima, precisa ser plantada de baixo.
O discurso de que a barbárie não é aceita é conto de carochinha. Não só é aceita como estimulada.
As tropas que atuaram no presídio do Carandiru entraram por livre e espontânea vontade e uma vez lá dentro agiram como num bang-bang na base do cada um por si, ou invadiram a mando e obedeceram ordens de extermínio?
A corda sempre roi no lado mais fraco. Assim como a sociedade anda cobrando o fim da violência que atinge sobretudo negros e pobres, deveria exigir punição não apenas para os peões do tabuleiro.
Fonte: DCM