Preso por “caminhar de forma apressada”

Jovem Everton Rodrigues, ativista do movimento Software Livre, foi algemado e arbitrariamente detido após fotografar um carro de polícia estacionado em cima da calçada

No seu horário de almoço, Everton Rodrigues caminhava na avenida Heitor Penteado, zona Oeste de São Paulo, quando viu um automóvel da Polícia Militar estacionado em cima da calçada. Sacou o celular e tirou uma foto da infração de trânsito cometida. Na volta do restaurante, foi seguido por um policial, algemado e levado para a delegacia, sob acusação de “desobediência”. No boletim de ocorrência, consta: “o averiguado, que ao perceber a presença da polícia, se portou de maneira suspeita, caminhando de forma apressada, razão pela qual resolveram abordá-lo”.“O que senti e sinto agora é que o Estado de Direito e a sociedade brasileira são reféns da Polícia Militar. Não é possível que descumpram a lei a todo momento e tenham certeza de que estão fazendo tudo corretamente”, conta Everton, ativista do movimento Software Livre e do Coletivo Sacode. “As pessoas não podem fazer nada demais, fui preso por que me tornei um suspeito.”

“A abordagem foi totalmente desnecessária e além disso o policial não apenas pediu a identificação [de Everton] como já o segurou de maneira agressiva com o uso de algema, sendo que as imagens demonstram que ele estava calmo”, conta Daniel Biral, do Advogados Ativistas, que assistiu Everton.

“As informações colhidas na delegacia demonstraram que ele foi violentamente conduzido sem motivo aparente, e os policiais ainda cometeram outros dois crimes: violaram sua intimidade retirando o seu celular, adentrando as informações pessoais e apagando as fotos que registravam a infração de trânsito; e apagaram uma prova colhida por ele que poderia ser utilizada em sede judicial para justificar tanto a condução ilegal como o abuso de autoridade, crime tipificado na Lei Carolina Dieckmann, artigo 154-A, parágrafo 3º.

”Biral comenta ainda sobre as abordagens policiais, comuns em diversos lugares, principalmente nas periferias das grandes cidades. “A Polícia Militar trabalha com alguns conceitos muito vagos. Ordem pública, por exemplo, não se sabe até hoje o que é; outro conceito vago é a ‘fundada suspeita’, por que o policial militar, em sua função ostensiva de tentar evitar o crime, só o pode fazer em sua presença, não abordando a todos sem motivo aparente. Ele só pode prender em flagrante delito, não é um agente da polícia judiciária e não fez investigação antes da abordagem”, explica.

 

 

Fonte: Revista Fórum

 

+ sobre o tema

Pedagogia de afirmação indígena: percorrendo o território Mura

O território Mura que percorro com a pedagogia da...

Aluna ganha prêmio ao investigar racismo na história dos dicionários

Os dicionários nem sempre são ferramentas imparciais e isentas,...

Peres Jepchirchir quebra recorde mundial de maratona

A queniana Peres Jepchirchir quebrou, neste domingo, o recorde...

Apenas 22% do público-alvo se vacinou contra a gripe

Dados do Ministério da Saúde mostram que apenas 22%...

para lembrar

Claudia Silva Ferreira, 38 anos, auxiliar de limpeza, morta arrastada por carro da PM

Texto de Camilla de Magalhães Gomes. 2014 ainda está no...

Guerra à periferia

Em 2012, após o PCC executar dezenas de policiais,...

SP precisa explicar os erros de sua política de segurança pública

Jacqueline Sinhoretto  Os números alarmantes da letalidade policial precisam ser...

Pelo fim da pena de morte aos adolescentes. O caso São Remo

O “mito do adolescente violento” transforma o jovem, negro e...
spot_imgspot_img

Crianças do Complexo da Maré relatam violência policial

“Um dia deu correria durante uma festa, minha amiga caiu no chão, eu levantei ela pelo cabelo. Depois a gente riu e depois a...

Instituto Odara lança dossiê sobre a letalidade policial que atinge crianças negras na Bahia

O Odara - Instituto da Mulher Negra torna público o documento “Quem vai contar os corpos?”: Dossiê sobre as mortes de crianças negras como consequência...

PM que agrediu mulher no Metrô disse que ela tinha de apanhar como homem, afirma advogada

A operadora de telemarketing Tauane de Mello Queiroz, 26, que foi agredida por um policial militar com um tapa no rosto na estação da Luz do Metrô de São...
-+=