Projeto resgata a história e a arte de mulheres negras gaúchas no cinema

Enviado por / FonteSul 21

“Um Mergulho por Mares Ainda Não Navegados” é o mais novo projeto da historiadora, fotógrafa e pesquisadora porto-alegrense Irene Santos, contemplado no edital Criação e Formação – Diversidade das Culturas, uma parceria entre a Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) e a Fundação Marcopolo, com recursos da Lei Aldir Blanc. Em fase de busca de material e depoimentos, trata-se de uma homenagem às mulheres negras gaúchas que fincaram raízes no cinema nacional. A proposta é realizar a pesquisa de conteúdo e desenvolvimento de um longa-metragem documental, com uma primeira versão do argumento e conceito do filme, reunindo duas fontes reconhecidas: Luiza Maranhão (1940) e Camila de Moraes (1987).

A atriz, modelo e cantora Luiza Maranhão, 81 anos, radicada na Itália, é considerada a “Deusa Negra” do Cinema Novo. Estrelou os clássicos “Barravento”, de Glauber Rocha (1962), “O Assalto ao Trem Pagador”, de Roberto Farias (1962) e “Ganga Zumba, de Cacá Diegues (1964), ente outros títulos de sucesso.

A cineasta Camila de Moraes, que hoje mora em Salvador (BA) estreou em 2017 na direção do longa-metragem “O Caso do Homem Errado” e tornou-se a segunda mulher negra no Brasil a colocar um longa em circuito comercial e a primeira mulher negra a concorrer a uma vaga para representar o país no Oscar.

“A partir da identificação dessas trajetórias, que atuam em décadas diferentes, será possível traçar um paralelo entre os caminhos percorridos por Luiza Maranhão e Camila de Moraes, que tiveram suas vidas transformadas pelo fazer artístico da atuação com o cinema. A intenção é compreender que travessia foi essa, realizada pela artista Luiza no passado, e que no presente é inspiração para a cineasta Camila percorrer pelos mesmos mares”, destaca Irene.

Irene Santos (Divulgação)

Mulher negra gaúcha, que teve o Cinema Novo como escola e a admiração pelo trabalho e talento da atriz Luiza Maranhão, Irene Santos, 73 anos, identifica e reconhece no trabalho da cineasta Camila de Moraes “a potência de mulheres negras presentes na produção do cinema gaúcho para o mundo”. A pesquisadora enfatiza que “mais que um resgate sobre personalidades que ajudaram a construir o que identificamos como cinema brasileiro hoje, ´Um megulho por mares ainda não navegados’ é uma imersão profunda nas origens dessas mulheres negras gaúchas, que encontraram na arte o prazer em viver e atuar no audiovisual”.

O primeiro passo do projeto é a pesquisa e o desenvolvimento do argumento do filme e, num futuro próximo, partirá em busca de recursos para financiar a realização do longa-metragem. Irene acredita tratar-se de uma importante iniciativa para a construção da memória do audiovisual brasileiro, com ênfase ao Cinema Novo e ao Cinema Negro como estratégias de luta e resistência para manter-se atuantes nesse cenário. O projeto foi desenhado para ser desenvolvido durante a pandemia, com a maior parte do trabalho realizado da casa de cada integrante da equipe, sempre que possível.

Licenciada em História pela UFRGS e fotógrafa profissional, Irene Santos realizou várias exposições individuais de fotografia em lugares prestigiados como o Museu de Artes do RS (Margs), a Galeria do Theatro São Pedro e a Casa de Cultura Mario Quintana. Além da pesquisadora, que já assinou o projeto “Outros Carnavais – Memória do Carnaval de Rua de Porto Alegre”, e as publicações “Negro em Preto e Branco – História Fotográfica da População Negra de Porto Alegre” e “Colonos e Quilombolas”, participam da equipe do projeto o publicitário, jornalista, pesquisador, diretor e roteirista de audiovisual Paulo Lencina e a jornalista Thaïs Bretanha.

Radicado na Itália, Lencina trabalha como diretor e roteirista para projetos como o “Salone del Mobile di Milano” e “Milan Design Week”, para clientes brasileiros e italianos, e no projeto de longa documentário “Clubes Sociais Negros – a história que ainda não foi contada”. Também participou da série de minidocumentários “Rota da Tocha Nissan Rio 2016”, um roadmovie de quase 3 mil km, patrocinado pela marca japonesa e o Comitê Olímpico Internacional (COI). A jornalista Thaïs Bretanha está encarregada da divulgação e da assessoria de imprensa do projeto.

Mais informações sobre o andamento da pesquisa e do projeto podem ser encontradas nas redes sociais:

Instagram: @ummergulhopor

Facebook: @ummergulhopormaresaindanaonavegados

+ sobre o tema

As origens do Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha

A população negra corresponde a mais da metade dos...

Mulheres da Independência: 3 mulheres são heroínas do 2 de Julho

Costureiras, esposas, mães, filhas, negras ganhadeiras que trabalhavam para...

Sexo com robôs: insípido, inodoro e indolor

O interesse dos homens pelos novos robôs sexuais é...

para lembrar

Débora, do Mães de Maio, luta por memória: “Meu filho morreu por ser preto”

No último domingo, Débora Maria da Silva completou 61...

“Precisamos desconstruir masculinidades tóxicas”, afirma Sérgio Barbosa

Desconstruir padrões de masculinidade desde a infância é essencial...

A história do único acampamento cigano chefiado por mulheres

Fundado em 2011 por três viúvas, o acampamento enfrentou...
spot_imgspot_img

Pesquisa revela como racismo e transfobia afetam população trans negra

Uma pesquisa inovadora do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (Fonatrans), intitulada "Travestilidades Negras", lança, nesta sexta-feira, 7/2, luz sobre as...

Aos 90 anos, Lélia Gonzalez se mantém viva enquanto militante e intelectual

Ainda me lembro do dia em que vi Lélia Gonzalez pela primeira vez. Foi em 1988, na sede do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), órgão...

Legado de Lélia Gonzalez é tema de debates e mostra no CCBB-RJ

A atriz Zezé Motta nunca mais se esqueceu da primeira frase da filósofa e antropóloga Lélia Gonzalez, na aula inaugural de um curso sobre...
-+=