Ele nasceu e cresceu na Rocinha e fala cinco línguas sem nunca ter saído do Brasil. Carlos Antônio de Souza trabalha à noite em um hotel e durante o dia faz visitas guiadas pela Rocinha, no Rio de Janeiro.
Mas o passeio que ele propõe aos visitantes, a maioria estrangeiros, é diferente. Em vez de percorrer as principais ruas da comunidade onde, segundo estimativas não oficiais moram 180 mil pessoas, Souza guia os turistas por vielas e um labirinto de ruas onde pedestres disputam espaço com um emaranhado de fios pendurados.
Ele diz que gosta de expor os problemas de infraestrutura da comunidade e a falta de investimentos públicos.
Ao passar por um esgoto ao céu aberto, ele diz em um inglês fluente:
“Não tape o nariz, respire fundo, porque vocês só vão passar cinco minutos aqui”.
“Essas pessoas vão morar aqui a vida toda”.
Em depoimento à BBC, Souza disse que “isso é violência, as pessoas morando no meio do esgoto”.
“Olha para este lugar, estamos entre dois bairros ricos da cidade. De um lado, apartamentos são vendidos por US$ 4 milhões. De outro, são alugados por US$ 1,5 mil mensais. Isto é violência”.
UPP
Sobre a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), presente na Rocinha desde setembro de 2012, o carioca opina que a situação na comunidade está “pior do que antes”.
“Não tem pacificação, estamos vivendo uma ditadura, eles pedem que fechemos a boca fechada e fiquemos em casa”.
“E não precisamos da polícia. Precisamos de projetos de infraestrutura, educação, saúde e dignidade”.
Carlos Antonio, para quem a Rocinha é ao mesmo tempo seu “país, cidade, paraíso e inferno”, critica o fato de que 99% de seus clientes sejam estrangeiros.
“Brasileiros não têm a menor curiosidade de conhecer a favela, nem uma vez sequer na vida”.
O depoimento de Carlos Antônio de Souza faz parte de uma coletânea de vídeos produzida pela BBC com histórias de vida na Rocinha.