Fundador da Associação de Integrantes de Alas de Baianas Flor Beijada
Rio – Na semana em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, é preciso destacar a importância da mulher negra em nossa cidade. Foram as baianas, que, na Saúde, no final do século 19, se tornaram as grandes festeiras da cidade. Criaram os ranchos que se tornaram, no século 20, em escolas de samba. Daí, o porquê da importância da ala de baianas para o Carnaval carioca.
Estas mulheres sustentaram a duras penas as famílias negras trabalhando como domésticas, pois, historicamente, o homem negro nunca teve trabalho formal, vivendo de pequenos biscates aqui e ali, enquanto suas mulheres tinham de certo modo um “emprego fixo”: as cozinhas das casas de classe média.
Além disso, o dinamismo da mulher negra sempre foi especial: ela também ia para ruas vender comidas afro (bolinhos, acarajé, quindins) e levava dinheiro para a casa, reduzindo, assim, o impacto da miséria das famílias pobres. Acabou, por conseguinte, imortalizando para sociedade brasileira a figura da vendedora de acarajé das ruas de Salvador e do Rio de Janeiro.
Neste sentido, achamos que a sociedade brasileira deve recuperar socialmente a mulher negra, pois, passados tantos séculos, ela continua ser a vítima mais fatal de nossas desigualdades sociais. Vejamos: cerca de 60% delas, segundo o censo 1990, continuam chefes de família, e 71,3% recebem até dois salários mínimos.
Elas ingressam sempre mais tarde no mercado de trabalho formal; se aposentam em menor proporção em relação às não-negras; as idosas desconhecem os caminhos jurídicos para obter pensões e sua saúde é precária em virtude da não-presença do Estado.
Assim, neste 2011, decretado o Ano Internacional dos Afrodescendentes pela ONU, é necessário que reflitamos sobre estas desigualdades históricas, e possamos interpretar que chegou a hora da virada da mulher negra no Brasil.
Fonte: O Dia Online