Sou neguinha e daí

Neguinha, sempre quando a minha irmã mais velha, que se considera branca, se dirigia a mim quando éramos crianças, era desta forma que ela me chamava – “vem cá sua neguinha”. Ofensa, hostilizada, era desta forma que ela costumava brigar comigo. Para mim, a mais preta da minha casa, soava como ofensivo, me sentia muito mal e chorava muito, pois era a única com a cútis mais escura.

Por Dih Nizinga Do Nos mulheres da periferia

Minha mãe sempre nos dizia que eu não era neguinha, e sim moreninha, e fazia com que “neguinha” se tornasse ainda mais ofensivo para mim. Até que um dia eu decidi, nunca mais ninguém irá me chamar de neguinha. Com essa decisão, comecei a negar a minha raça. Quando a minha irmã mais velha gritava comigo me chamando de neguinha, me defendia como se isso fosse um xingamento e revidava.

Até que um dia comecei a ver que ser negra não era ruim, como me diziam, e o tomei a decisão mais importante da minha vida. Pouco me importa o que a minha irmã diz, o que me importa é ser quem eu sou: Negra. Desde então, assumi a minha cor e comecei a me orgulhar disso – sou Neguinha.

E hoje, a minha irmã me respeita e já não me chama de neguinha como se fosse uma forma ofensiva e sim carinhosa. Acredito que ela também tenha aceitado que é filha de negra, por mais que tenha a pele clara, também é negra ou afrodescendente.

Não importa mais a cor da pele e sim nossas raízes e isso deixo bem evidente para meus filhos e meus sobrinhos, filhos desta minha irmã, que, aliás, não tem os mesmos defeitos, ou talvez a mesma psicose que tínhamos quando criança.

Nós mulheres negras somos obrigadas desde criança a negar a nossa origem e aprendermos a nos comportar como brancas, quando é evidente, pela nossa melanina, traços fortes, cabelos enrolados, olhos castanhos ou pretos, traços de negra e não de branca, ou, ainda pior, moreninha, como a sociedade racista impõe.

Hoje sabemos a nossa origem e não sofremos mais uma psicose do distúrbio de identidade em que somos impostas. Sou Neguinha, e daí?!

Dih Nzinga (Edilene Nascimento), 33 anos. Mora na zona sul de São Paulo, no bairro Chácara Santo Amaro, na região do Grajaú. Estuda Relações Públicas.

+ sobre o tema

Lea T causa frisson com maiô engana-mamãe e shortinho

Estou aproveitando o momento', disse a top após aplausos...

Onjango feminista: o centro da emancipação e desalienação feminina

Os homens, por meio das religiões monoteístas, construíram na...

Nós queremos é falar sobre poder!

“No momento em que o excluído assume a própria...

Maju Coutinho fala sobre saúde mental, fake news e maternidade: “Estamos enfrentando a pandemia da desinformação”

Maju Coutinho entra no ar da bancada do Jornal Hoje (JH), às 13h25 da...

para lembrar

Da prisão ao casamento: as relações homoafetivas em nove países das Américas.

Recém-aprovado no Equador, casamento entre pessoas do mesmo sexo...

“As empresas não devem se apropriar do discurso social”

Coordenadora de projetos do Instituto Avon fala sobre a...

Seminário Internacional sobre Mídia e Violência de Gênero em Florianópolis

Como os crimes contra mulheres são abordados pela imprensa?...
spot_imgspot_img

Sueli Carneiro analisa as raízes do racismo estrutural em aula aberta na FEA-USP

Na tarde da última quarta-feira (18), a Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP) foi palco de uma...

O combate ao racismo e o papel das mulheres negras

No dia 21 de março de 1960, cerca de 20 mil pessoas negras se encontraram no bairro de Sharpeville, em Joanesburgo, África do Sul,...

Ativistas do mundo participam do Lançamento do Comitê Global da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver

As mulheres negras do Brasil estão se organizando e fortalecendo alianças internacionais para a realização da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem...
-+=