SP: ativismo na faculdade causou ataque racista, crê jovem

 

A universitária Tais Evandra Teles de Carvalho foi vítima de ataque racista na Unesp.

Chico Siqueira,

Recuperada das ofensas escritas na porta de um banheiro do campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp, de Presidente Prudente, a universitária Tais Evandra Teles de Carvalho dos Santos, 26 anos, estudante do quarto ano do curso de geografia, diz que o ataque racista se deve ao ativismo antirracial que ela faz dentro da faculdade.

Segundo ela, a frase “Thaís Telles preta safada macaca”, escrita à caneta na porta do banheiro da área de convivência, pode ter sido feita por pessoas insatisfeitas com as atividades do coletivo Mãos Negras, o qual ela integra. O coletivo, que é formado por 12 estudantes de dentro e fora da faculdade, tem objetivo de reforçar a participação negra dentro da Unesp e na sociedade. O grupo possui ligações com outros coletivos que lutam pela igualdade racial em Presidente Prudente e organizou diversas manifestações após o incidente envolvendo Tais.

 “Não vou afirmar, mas tenho impressão de que esta manifestação racista e preconceituosa foi causada pela atuação do coletivo, que passou a discutir a questão étnico-racial dentro da faculdade com muito mais força”, diz. “Um dos assuntos discutidos e aprofundados é a política de cotas para negros, que todas as escolas públicas têm de seguir, mas muitos são contra”, afirma. “O coletivo também ampliou as manifestações culturais, como rodas de capoeiras, rodas de dança afro e círculos de discussões, intensificando a valorização da cultura africana.”

Para a universitária, a intenção da frase racista não era atacá-la pessoalmente, mas sim, atingir o trabalho desenvolvido pelo grupo. “Como a Tais era mais visível, ele a atacaram, mas o intuito era atingir toda a mobilização do coletivo”, afirma. “Não tenho ideia de quem fez isso, mas certamente o objetivo era este”, completa.

No entanto, segundo a jovem, talvez ao contrário do que pretendia o agressor, o movimento saiu mais fortalecido com o incidente. Na manhã de 2 de abril, após o ocorrido, diversas manifestações de apoio à estudante e de repúdio ao ato de racismo foram realizadas nas dependências da Unesp – encontros para discussão, paralisação de aulas e passeata de protesto pelas ruas da cidade.

No mesmo dia, um ato de protesto reuniu mais de 400 pessoas entre funcionários, alunos e professores. No dia seguinte, estudantes dos cursos de pós-graduação e de pesquisa paralisaram as aulas para protestar contra o racismo. Ainda na quinta-feira, 3, o conselho do coletivo Mãos Negras emitiu nota de repúdio ao acontecimento e estabeleceu uma pauta de reivindicação – a principal delas é o cumprimento da Lei 10.630, de 2003, que obriga as escolas a ter aulas de cultura afro-brasileira.

“Estamos reivindicando a contratação de professores para lecionar aulas de África e africanidade brasileira aqui, na Unesp. É uma lei que tem mais de dez anos e que tem de ser cumprida e vamos lutar por isso”, afirmou Tais.

Polícia trata caso como injúria
Assim que viu a frase na porta do banheiro, avisada por um colega, Tais procurou a polícia para fazer denúncia de crime de racismo, mas foi impedida de registrar o caso como queria. “Na delegacia, me disseram que não haveria como fazer porque teria de identificar os autores e provar que o objetivo era de cometer discriminação racial”, contou. Assim, o boletim de ocorrência foi feito por injúria.

O caso está na Delegacia da Mulher. A delegada Denise Simonato disse que pediu perícia para o caso, tratado como “injúria racial”. “Estamos apurando o caso, pedimos perícia no local e estamos tentando identificar o autor. Vamos ouvir a vítima e só depois que ela representar contra o autor é que podemos puni-lo”, disse a delegada.

Tais, porém, não está muito confiante. “Acho que dificilmente vão encontrar quem fez aquilo. Mas, se encontrarem, vou representar contra”, afirmou. Segundo a jovem, embora tenha vivido outras experiências semelhantes, em nenhum momento de  sua vida havia passado por ataque tão direto. “As coisas sempre foram mais veladas, como são na sociedade brasileira, nunca tão direta como agora.”

Fonte: Terra

 

 

 

 

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