“Tornar-se negro”- As vicissitudes da Identidade do Negro Brasileiro em Ascensão Social de Neusa Santos Souza

“Tornar-se negro”- As vicissitudes da Identitade do Negro Brasileiro em Ascensão Social (Ed. Graal, RJ-1983) de Neusa Santos Souza (1948-2008)

Resumo: Capítulo I – Introdução

A autora inicia dizendo que uma das formas de exercermos a autonomia individual é afirmando a nossa identidade através de um discurso sobre si mesmo e que para isto é necessário um conhecimento da realidade concreta. Dessa forma, Neusa Santos Souza vai conduzir seu estudo procurando “elaborar um gênero de conhecimento que viabiliza a construção de um discurso do negro sobre o negro” com foco na emocionalidade: Para atingir este objetivo ela se vale de “um olhar que se volta em direção à experiência de ser-se negro numa sociedade branca”. E faz assim uma reflexão “sobre a experiência emocional do negro que “responde positivamente ao apelo da ascensão social”.

Apoiada em sua própria experiência e em sua formação psicanalítica ela procura interpretar quais são as trajetórias pessoais, os pressupostos e os desdobramentos desse difícil processo de ascensão social do negro numa sociedade branca.

Hoje, vinte e sete anos depois da publicação de “Tornar-se negro” podemos observar que já temos um novo cenário se descortinando na sociedade brasileira, mas que ainda possui muito poucas definições quanto ao respeito da identidade negra. Isto, contudo, se apresenta como um desafio constante e necessário para as lutas de combate ao racismo e de conquista da cidadania do negro que passam assim, necessariamente pelo desafio da sua ascensão social.

Neusa Santos se expressa a partir da sua condição feminina que faz da descoberta de ser negra mais do que a constatação do óbvio. Segundo ela, “saber-se negra” é viver a experiência de ter sido massacrada (o mesmo, é certo para o homem negro) em sua identidade, confundida em suas expectativas, submetida a exigências absurdas além de ser constrangida com expectativas alienadas. Seu estudo trata deste problema e procura respostas que vão além de uma mera reflexão acadêmica sendo carregado da paixão pelo saber que ela articula com a experiência vivida por outros negros e negras. Procurando assim gerar um conhecimento tanto racional como emocional indispensável não só para os negros mas também para os brancos que querem experimentar um processo de libertação do racismo, afirma.

O impacto para o negro, observa Neusa Santos, da “conquista da ascensão social é o massacre mais ou menos dramático da sua identidade”. E hoje. quase trinta anos depois de sua escrita já podemos pensar melhor em que medida esse massacre ainda se produz como tributo de um processo de sua ascensão social que vem de certa forma, se tornando mais palpável diante do crescimento econômico do país na última década.

“Afastado de seus valores originais, representados fundamentalmente por sua herança religiosa, o negro tomou o branco como modelo de identificação, como única possibilidade de tornar-se gente”. É partindo desse confronto e dessa imposta auto negação que ela irá conduzir seu estudo procurando explicar o “custo emocional da sujeição, negação e massacre de sua identidade original, de sua identidade histórico-existencial”.

 

Fonte: Facebook

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Tornar-se negro capitulos II, III, IV, V, VI e VII 

 

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