Traficantes dão ordem para fechar terreiros na Baixada Fluminense

Último caso aconteceu na semana passada em Duque de Caxias, quando um criminoso exigiu o fechamento de vários terreiros na região. Comissão estima que em todo o estado cerca de 100 terreiros tenham recebido ameaças.

Por Amanda Prado e Pedro Bassan, do G1

Traficantes ordenam para que 100 terreiros fechem no estado do RJ
(Reprodução/Rede Globo)

Os casos de intolerância religiosa têm aumentado no Rio de Janeiro e traficantes estão impedindo terreiros de umbanda e candomblé de funcionar. O último caso aconteceu na semana passada em Duque de Caxias, Baixada Fluminense, quando um criminoso ordenou o fechamento de vários terreiros.

Relatos de testemunhas à polícia mostram que houve uma ação coordenada pra fechar terreiros na região, especialmente no Jardim Gramacho e arredores. Investigadores dizem que a Baixada concentra boa parte das ameaças registradas esse ano.

“Ningúem é maluco de peitar, foram 15 barracões, 15 babalorixás de nome, de respeito, que não vão poder mais ser cidadãos”, disse uma das testemunhas.

Uma outra pessoa diz que os barracões foram obrigados a fechar: “Está proibido. Não se toca mais o candomblé, não se toca mais a umbanda”.

A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio divulgou o número de casos deste ano: são 20 em Duque de Caxias e 15 em Nova Iguaçu, na Baixada, 10 em São Gonçalo e 15 em Campos, no Norte do estado. Os outros 40 terreiros seriam no Rio, segundo estimativa da comissão.

Na Cidade do Rio, a comissão disse que a maior preocupação é com os terreiros localizados na Zona Norte, principalmente em Colégio e em Irajá, e com os terreiros na Zona Oeste em Inhoaíba, Santa Cruz, Cosmos e Senador Camará.

Diante do aumento dos casos de intolerância religiosa e de ameaças aos terreiros, o Ministério Público Federal em São João de Meriti, responsável por toda a Baixada, abriu um inquérito civil sobre o assunto.

“O Ministério Público pretende levar isso aos órgãos do Estado, ao governador, a presidência da Alerj, ao Ministério Público do Estado e garantir que esse caso seja realmente investigado”, disse Júlio Araújo, procurador da República.

Para a polícia, os casos ocorrem em áreas dominadas por uma mesma facção. As investigações são da Decradi, delegacia criada no ano passado para combater os crimes de intolerância.

O delegado confirma as investigações em Nova Iguaçu, mas diz que nenhuma das vítimas de Caxias foi até a delegacia para comunicar a onda de ameaças da semana passada.

Enquanto a polícia espera, as vítimas continuam cercadas pelo medo e pela violência.

“Não tem respeito por ninguém, não tem respeito por nada. A gente tem que acatar. Ou acata ou a gente morre”, disse uma das vítima.

 

 

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