Um Sonho Possível: Condescendente e paternalista, filme posa de sensível

É curioso como tantos precisam de adulação pública para fazer o bem. Outro dia, um canal a cabo exibiu um programa chamado “Celebridades do Bem”, em que astros multimilionários relatavam, embevecidos por sua própria magnanimidade, seus esforços para ajudar diversa causas humanitárias. Só não ficava claro o que é que lhes dava mais prazer: se ajudar ao próximo ou anunciar isso ao mundo.

“Um Sonho Possível”, filme que deu o Oscar de melhor atriz para Sandra Bullock, periga ser “O Mágico de Oz” dessa turma que gosta de trombetear seu assistencialismo. E a personagem de Bullock, uma perua milionária que subitamente descobre que não vive num mundo de faz de conta, onde todos são brancos, ricos e cafonas, é a nova heroína da patota.

Bullock interpreta Leigh Anne Tuohy, casada com um ex-atleta milionário. Os Tuohy moram em Memphis, no Tennessee. Os filhos estudam numa escola católica de classe alta, onde não há um pobre à vista. Até que surge Michael Oher (Quinton Aaron), rapaz imenso e calado, que consegue bolsa na escola graças às suas habilidades no futebol americano. Michael vem de um bairro barra pesada e foi abandonado pela mãe, uma viciada em crack. Os Tuohy, com pena do rapaz, o acolhem em sua mansão.

“Um Sonho Possível” posa de sensível, mas é um filme condescendente e paternalista. Na “brancolândia”, Michael veste roupas novas, janta em bons restaurantes e até ganha um carro da nova família. “Nunca tive uma cama”, diz o rapaz, enquanto Sandra Bullock chora de emoção. Quando ele precisa voltar ao seu antigo bairro, encontra um cenário típico dos filmes de Charles Bronson, com bandidos mal-encarados fumando maconha e brandindo armas em plena luz do dia.

O filme canoniza a personagem de Sandra Bullock: em certo momento, ela pergunta ao marido: “Será que eu sou uma boa pessoa?”, ao que o maridão responde: “você é a melhor pessoa que eu conheço!” Palmas para ela. Enquanto isso, o pobre Michael vira uma marionete, um ser humano incapaz de tomar uma decisão e totalmente dependente da boa vontade alheia. Como se o ciclo de pobreza e violência que o vitimou só pudesse ser rompido pela caridade dos outros.

“Um Sonho Possível”, baseado na história real de Oher, hoje um jogador profissional de futebol americano, é uma overdose de sentimentalismo barato. Se quisesse realmente fazer uma boa ação, Sandra Bullock bem que poderia doar seu Oscar para uma atriz de algum filme melhor que esse.

 

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