Vacina contra meningite sem refrigeração é testada com sucesso na África

Por: Amanda Lourenço

 

Um dos maiores desafios na luta contra as epidemias em países tropicais é o transporte de vacinas, que precisam ser mantidas em baixas temperaturas. Mas o sucesso de uma campanha de vacinação contra a meningite A no país africano do Benim, com lotes que não foram refrigerados, pode abrir precedentes significativos na logística da prevenção de doenças em países em desenvolvimento.

A campanha piloto, uma parceria entre a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a ONG internacional sem fins lucrativos PATH, aplicou a vacina MenAfriVac em cerca de 150 mil pessoas entre 1 e 29 anos em novembro de 2012. O produto foi mantido em temperatura ambiente por um prazo de até quatro dias, sem ultrapassar os 40°C, nem ser exposto diretamente à luz solar.

O estudo final, publicado na revista científica Vaccine, concluiu que não houve nenhum caso da doença entre a população vacinada, provando a eficácia da campanha. Os custos também caem pela metade, já que grande parte dos caros materiais de refrigeração se tornam dispensáveis. Cada vacina passa a custar US$ 0,12, ao invés de US$ 0,24.

“As vacinas são produtos geralmente sensíveis ao calor, por isso se convencionou em todos os países a manter vacinas entre 2 e 8 graus, o que chamamos de ‘cadeia de frio’. Manter o frio é um desafio em alguns lugares. A inovação desta experiência está em dispensar essa cadeia de frio e poder levar as vacinas para os locais de mais difícil acesso. Será um passo enorme para a vacinação se progressivamente pudermos diminuir a dependência em relação ao frio”, explica Olivier Ronveaux, epidemiologista da Organização Mundial de Saúde.

A meningite do tipo A é um grave problema no continente africano. Apenas entre 1996 e 1997 cerca de 25 mil africanos morreram da doença. Nos anos seguintes as vacinações foram reforçadas e os casos diminuiram, mas 20 milhões de crianças continuam esperando imunização. No Brasil, a meningite A não é uma ameaça, mas os resultados obtidos nesta pesquisa podem beneficiar outras vacinas.

“A MenAfriVac é uma vacina contra meningite A usada para controlar epidemias na África, mas queremos que esse método se extenda a outras vacinas. No momento estamos estudando aquelas contra a cólera e a febre amarela, da qual o Brasil é um dos produtores”, afirma o Dr. Ronveaux.

O médico infectologista Newton Bellesi, diretor da Clínica de Medicina Preventiva do Pará, trabalhou com vacinação em comunidades da Amazônia e afirma que a não-refrigeração das vacinas faria muita diferença de ordem prática: “Nós dávamos apoio ao Programa Nacional de Imunizações levando as vacinas para as regiões de mais difícil acesso. A vacinação tinha que ser executada imediatamente após nossa chegada, porque a quantidade de gelo não permitia espera. Com certeza facilitaria muito se as vacinas não precisam de refrigeração. Mais pessoas poderiam ser beneficiadas”, afirma Bellesi.

Fonte: RFI

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