‘Vem seu preto safado’: universitário acusa adversário de racismo durante torneio em MG

Enviado por / FonteDo G1

Acusações ocorreram durante Engenharíadas Mineiro, realizado em Uberlândia. Organização do evento decidiu desclassificar a Atlética da Engenharia da Universidade Federal de Uberlândia da competição e exclui-la das próximas edições.

A Associação Atlética Acadêmica Engenharia da Universidade Federal de Uberlândia (AAAE) foi desclassificada da edição 2022 das Engenharíadas Mineiro após um suposto caso de racismo envolvendo atletas da entidade. O evento esportivo, que reuniu estudantes de cursos de engenharia de todo o estado, ocorreu entre os dias 12 e 15 de novembro, em Uberlândia.

Segundo uma carta aberta publicada pela organização do evento na terça-feira (15), após uma partida houve uma discussão entre os atletas da AAAE e da Atlética das Engenharias da Universidade Federal de Lavras (Ufla). Durante a briga, um dos atletas da Ufla disse ter sido alvo de injúria racial por parte de um jogador da Engenharia UFU.

De acordo com o boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar (PM), a vítima de 22 anos afirmou que, durante a confusão, um atleta do time adversário o abordou com ofensa de cunho racista.

“Vem seu preto filho da puta! Vem seu preto safado!”, consta no boletim.

Ainda segundo a PM, o suspeito negou ter dito a frase e afirmou que falou apenas “não adianta você chorar agora porque xingou nosso treinador”.

Em nota, a Atlética da UFU disse que “repudia qualquer ato de racismo e discriminatório”. A entidade relatou, ainda, que o membro acusado deu uma versão diferente do ocorrido e que “ambas as partes foram ouvidas na delegacia para possível instauração de inquérito policial, entretanto, após explicações mútuas e concessões recíprocas, resolveram, em comum acordo, a não dar continuidade ao que poderia ser um possível processo penal”. Veja abaixo o posicionamento na íntegra.

Em uma rede social, a Atlética das Engenharias da Ufla declarou, também em nota, que a vítima não retirou a queixa, mas tomou a decisão de, por hora, não seguir com o processo criminal, “já que acredita que o agressor tem uma segunda chance de se redimir e pedir desculpas”.

“Acreditamos em um campeonato inclusivo e democrático. É com muita tristeza que Xarada [apelido da Atlética das Engenharias da Ufla] vem a público mostrar a sua indignação e repúdio a todo ato de racismo e qualquer outro tipo de preconceito”, completou a atlética.

g1 procurou a Universidade Federal de Uberlândia para saber se a entidade gostaria de se posicionar sobre o ocorrido e aguarda retorno.

Desclassificação

Após o ocorrido, uma reunião com as atléticas associadas foi realizada pela Liga Esportiva das Engenharias de Minas Gerais. Em novo posicionamento publicado durante a tarde, a organização do evento informou que, por conta do “comportamento adotado e eventos ocasionados por parte da torcida”, a AAAE foi desclassificada do evento e excluída das próximas edições.

Segundo a organização das Engenharíadas Mineiro, a decisão de desclassificar a atlética se baseou no regulamento do evento, que diz que “cada associação é inteiramente responsável por todos os atos de sua delegação”.

“Em decisão unânime, foi decidido tanto pela desclassificação, ocasionando a perda de todos os pontos, quanto pela exclusão, não fazendo mais parte do quadro de participantes do atual evento e dos posteriores, acarretando última colocação”, completou a entidade.

O que diz a Atlética das Engenharias da UFU

“A AAAE vem afirmar que, seguindo a coerência com seus 50 anos de história, repudia qualquer ato racista ou discriminatório.

Por isso, vimos esclarecer que: na disputa intitulada Engenharíadas, na final da modalidade do Futsal Masculino, após o término da partida, houve confusão generalizada e agressões díspares por parte de uma das equipes, o que foi amplamente divulgado nas redes sociais. Ao final do confronto recebemos a alegação de que um de nossos atletas teria proferido palavras de cunho racista e discriminatório a um outro integrante envolvido no entrevero.

Desta forma, sem fugir à busca da verdade e primando pela correta apuração dos fatos, objetivando a resolução da questão, requisitamos a súmula da partida e partimos prontamente para a oitiva do atleta acusado do ato, e este, nos forneceu versão diferente daquela relatada sobre o incidente. Em seguida, fizemos questão de nos dirigirmos à delegacia em companhia do atleta, para que o mesmo se explicasse ao ofendido.

Informamos que após o ocorrido, ambas as partes foram ouvidas na delegacia para possível instauração de inquérito policial, entretanto, após explicações mútuas e concessões recíprocas, resolveram, em comum acordo, a não dar continuidade ao que poderia ser um possível processo penal. Agradecemos o apoio e presteza da Polícia Militar.

A AAAE repudia todo e qualquer ato de racismo e discriminação. Este acontecimento só reforça a importância de nossa luta por um esporte sem ódio.

Por fim, ressaltamos que todas as medidas legais e cabíveis estão sendo tomadas, interna e externamente, para que acontecimentos assim não ocorram nas competições e eventos disputados e realizados pela AAAE”.

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