Era uma vez o mundo” apresenta coleção de bonecas inspiradas em personalidades negras brasileiras

Subtítulo: Lázaro Ramos, Tia Má, Liniker e a Miss São Paulo, Sabrina Alves, estão entre os homenageados pela coleção Dandara 2017

Por Priscila Rodrigues para o Portal Geledés 

Estou me sentindo uma fada madrinha”. Foi assim que Jaciana Melquiades – idealizadora da Era uma vez o mundo ao lado do seu marido Leandro Melquiades – resumiu o momento de entrega das primeiras bonecas da coleção Dandara 2017. Na tarde da última terça-feira (15), na Galeria Scenarium no Centro do Rio, personalidades negras que inspiraram a coleção receberam os seus modelos. A campanha é nacional e contou também, no mês passado, com entregas para personalidades de São Paulo e Salvador. O momento era realmente mágico. A cada caixa de boneca aberta vinham a tona lágrimas, sorrisos e muitas lembranças de uma infância permeada pela falta de representatividade.

Já abraçada com a sua boneca, Renata Morais, coordenadora da agência Crespinhos S/A, fala dos detalhes do brinquedo. “Ela tem a minha cor, o meu cabelo, é gorda e usa bata”, afirma encantada. Renata ainda comparou a sua reação com a boneca e a da sua filha, Elis Mc, que também recebeu o seu modelo. “Pra mim ainda é pesado. Dói! Me traz lembranças muito complicadas da infância. Ela (Elis) já tem outras referências. É um momento muito mais alegre. Que bom!”

O exemplo da Elis Mc ainda é raro. Segundo levantamento realizado, durante os meses de abril até junho de 2016, pela ONG Avante, da Bahia, de um total de 1.945 modelos de bonecas encontradas, apenas 131 são negras. A pesquisa foi realizada no site dos maiores fabricantes de brinquedo do Brasil para a campanha “Cadê nossa boneca?”. A campanha ainda disponibiliza uma plataforma online que mapeia estabelecimentos que vendem ou não bonecas negras. O mapa é colaborativo e a falta de representatividade continua ganhando de goleada.

Essa escassez de bonecas negras também foi observada pelo ator Lázaro Ramos. “Conheci a Era uma vez o mundo quando estava andando em uma feira procurando um brinquedo para a minha filha. Me encantei! Na minha infância eu não tive um boneco que se parecesse comigo. E quando me chamaram para virar boneco aceitei logo. Essa união entre o brinquedo, o lúdico e o fator identitário é tão importante. A luta por representatividade não é fácil e um momento como esse é um resgate de sonho”, afirmou.

A jornalista Maíra Azevedo, mais conhecida como Tia Má, também falou sobre a sua infância. “O brinquedo é a personificação do que todo mundo quer ser. De repente eu, preta, gorda e nordestina, o que ninguém quer ser, me transformei em uma boneca. Só uma mulher preta sabe o que estou sentindo agora”, afirmou emocionada.

O casal Jaciane e Leandro Melquiades agradeceram a todos os presentes pela possibilidade de realização de um sonho. “Vocês estão permitindo que mais crianças pretas tenham as suas subjetividades respeitadas. Estão permitindo que levemos mais espelhos positivos para que eles saibam que podem ser o que quiserem ser”. A pré venda da coleção Dandara 2017 começa no dia 06 de março na página da Era uma vez o mundo. São 30 modelos diferentes e colecionáveis.

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