Golpeada na mão com facão, moradora de Ipanema acusa vizinha de racismo: ‘Preto no meu prédio, não’, teria dito a mulher

O ano de 2016 havia começado há pouco mais de 12 horas quando uma discussão entre vizinhos virou caso de polícia na esquina entre as ruas Alberto de Campos e Vinicius de Moraes, em Ipanema, Zona Sul do Rio. Claudia da Silva Chaves, de 47 anos, acusa a moradora do apartamento abaixo, Clarice Barbosa Petereit, de 61, de tê-la atacado com um facão e de ter proferido ofensas raciais.

Por Luã Marinatto Do Extra

Ferida na mão, Claudia passou por duas cirurgias para reparar lesões nos tendões e ficou uma semana internada no Hospital municipal Miguel Couto, na Lagoa. Na última quinta-feira, ela esteve na 14ª DP (Leblon) e afirmou em depoimento que, por volta das 13h do dia 1º de janeiro, a vizinha foi até sua casa e iniciou uma discussão “por questões condominiais”. Após o bate-boca, motivado por divergências no descarte do lixo, Clarice desceu para o seu imóvel e retornou com um facão. Enquanto desferia os golpes, ainda segundo esse relato, Clarice gritou: “Preto no meu prédio, não”.

— Não dá pra tratar essa senhora como louca, é uma sociopata. Doido não discute e volta para a casa dos outros com faca — disse Claudia ao EXTRA.

No próprio dia 1º, uma amiga de Claudia, que estava com ela durante o ataque, registrou o fato na 14ª DP. Nessa primeira ocorrência, contudo, os envolvidos aparecem como vítimas e autores, pois Clarice também alega ter sido xingada e agredida fisicamente.

ipanema

“Agressão mútua”

Na delegacia, Clarice contou que, depois do desentendimento sobre o lixo, ambas chegaram “às vias de fato com agressão mútua”. Apenas no segundo registro, feito por Claudia, consta o crime de injúria por preconceito.

— Instaurei o inquérito e temos que ouvir as testemunhas. Será preciso apurar se houve injúria racial. É prematuro fazer qualquer juízo de valor — explicou a delegada Monique Vidal, titular da 14ª DP.

O EXTRA tentou contato com Clarice, mas, na única vez em que atendeu a ligação, ela pediu veementemente para não ser mais incomodada.

— Você pode parar de me perturbar? — afirmou, antes de desligar o telefone.

“Ela sempre pega o lixo e põe na minha porta”

Depoimento da microempresária aposentada Claudia da Silva Chaves, de 47 anos

“Às vezes, a gente desce e a lixeira está cheia, e todo mundo deixa fora. Mas ela sempre pega e põe na minha porta, até o que não é meu. No dia 1º, quando vi que tinha acontecido de novo, pela primeira vez coloquei de volta na porta dela, estava cansada daquilo.

Logo depois, começamos a discutir. Ela acabou pegando um facão enorme e veio pra dentro da minha casa. Logo que me mudei pra cá, ela já tinha chamado um entregador de água de macaco.

Na verdade, essas pessoas são dignas de pena, porque é sinônimo de ignorância. Tanto que nunca dei confiança pra esse tipo de coisa, eu sou mais que isso. Fico até chateada com esse sensacionalismo sobre racismo, acaba desviando a atenção da violência maior que está no mundo. Mas fiquei de saco cheio de ser sempre essa mesma história.”

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