“Racismo ainda é um crime quase que perfeito”

No Dia da Consciência Negra, movimentos fazem marcha por reformas, desmilitarização da PM e mais inclusão social em São Paulo

O Dia da Consciência Negra ainda é uma data comum em capitais como Curitiba, Campo Grande, Salvador, Fortaleza, Belém. São Paulo, contudo, é uma das 1.046 cidades brasileiras que decretaram a celebração como feriado municipal. A opção de alguns estados e municípios brasileiros mostra como parte da sociedade brasileira ainda resiste à discussão do racismo e do preconceito contra negros no País.

“Precisamos combater isso na prática, e não só nas palavras. E deveria virar um feriado nacional e não só em alguns municípios e estados. Enquanto não é um feriado nacional, enquanto não tem essa valorização, a data é tratada como um feriado que não tem relação com essa luta e com a importância que exige”, defende o subprefeito do Jabaquara, Wander Geraldo (PCdoB).

Por conta disso, na capital paulista, movimentos negros realizam todos os anos a Marcha da Consciência Negra. A 11ª edição reuniu aproximadamente 2000 pessoas, segundo a organização, e ocupou as ruas do centro da cidade. O ato começou no meio da tarde no vão do Museu de Arte de São Paulo (MASP)e percorreu ruas como a avenida Consolação até chegar ao Theatro Municipal, onde foram realizadas as primeiras manifestações públicas do movimento negro no Brasil, ainda na época da ditadura.

Neste ano, os organizadores colocaram como principais reivindicações: reforma política; democratização da mídia; desmilitarização da Polícia Militar; fim dos autos de resistência; políticas de inclusão social e implantação das leis antirracismo, entre outros temas. “Infelizmente o racismo ainda é um crime quase que perfeito. Está em todo lugar, as pessoas tratam quase como piada, como brincadeira. Os nossos jovens continuam a ser exterminados: 77% dos homicídios são contra jovens negros e pobres”, afirma a presidenta do PMDB afro de São Paulo, Tati Braga.

A celebração teve participação de movimentos como a Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), UNEafro e o Círculo Palmarino. Estiveram presentes também representantes do PT, Psol, PC do B, PMDB, PSTU e PCO, como o ex-deputado e presidente municipal do PC do B Jamil Murad e o deputado estadual Adriano Diogo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Fizeram parte da marcha ainda baterias de escola de samba, religiosos e militantes e apoiadores da causa em geral.

“A data incomoda porque mexe com o conservadorismo da sociedade brasileira. Nós da Conen sabemos que, apesar dos avanços e das conquistas, as desigualdades ainda persistem no Brasil. Além disso, o pensamento conservador tem sido estimulado pela mídia conversadora e está impregnado na nossa sociedade”, analisa Flávio Jorge, secretário executivo da Coordenação Nacional de Entidades Negras.

Além de música, a manifestação teve uma performance artística da arista Olívia Vitória, que se despiu no vão-livre do Masp e, toda pintada, substituiu a roupa por adereços africanos, como colares e lenços. “[A performance] representa todos meus ancestrais, a estética deles foi abafada. Ainda tem muita coisa para a gente fazer, para enxergar e reconhecer”, explica. “As pessoas têm dificuldade de aceitar isso [a Consciência Negra] e de enxergar o racismo, o preconceito. E na verdade é uma grande ignorância, no sentido de falta de conhecimento”.

 

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