Vadio sim e estou vivendo, tem gente que não vadia e está morrendo – Minha cama, meu palco e os haters gonna hate

Vamos imaginar assim: você é uma garota que passou a vida esperando os moços tomarem iniciativa. Certo dia, você acorda e descobre que tá no século 21, que você pode sair da posição de estátua, que tem apenas que se sentir linda, e passa a tomar a iniciativa com o cara que te der na telha. Qualquer um. Todos eles. Ai você percebe que falar “Oi, tudo bem?” e puxar assunto com um cara interessante não é tão difícil assim. E dá certo! Eles não só respondem como eles se interessam por você.

Por Gabriella Feola, do LadoM

Garota, você acabou de descobrir um poder, um dom. É a magia de conhecer alguém. De ver uma cara que você acha bonita e desvendar o que tem por trás dela. Do que aquele cara gosta? Qual será a mania dele? Será que ele beija suave?

A conversa já não basta. Você quer descobrir o gosto do beijo, a textura da pele, o aperto dos braços… E cada cara vai se tornando mais interessante que o outro, porque as diferenças encantam e o desconhecido, atrai. O sexo, ah, o sexo é uma caixa de surpresas. Quando você se dá conta, de um em um, de descoberta em descoberta, de paixões repentinas até noites entediantes, você tem uma coleção. Uma coleção particular de homens, de sabores, de encantos.

A cama é seu palco. Cada peça de roupa a menos é um sorriso a mais. Lá, não importam os quilos a mais ou os peitos de menos: você gosta da sua própria performance, gosta de seduzir e ver nos olhos do outro o desejo que ele sente por você. Você assiste a cada reação que um toque diferente desencadeia. Você toma as rédeas e comanda a dança. Você goza e admira no fim a satisfação alheia, e se orgulha de tudo isso.

Mas eis que aí surge alguém, alguém que não acordou no século 21. E esse alguém te lembra que você pode ganhar um nome bem feio por ter passado esse tempo todo colecionando amores de uma, duas ou três noites. Esse alguém te chama de vadia e transforma a magia da conquista em um vício repugnante.  Esse alguém te crítica e promete que você se arrependerá se não mudar seu comportamento.

Esse alguém não é um só. É todo um conjunto de gerações que ouviram nas missas de domingo de manhã o discurso de um padre austéro dizendo “Você não encontrará nas coisas do mundo, alguém que possa te dar as coisas de Deus. Se você conhecer as pessoas na vida, nas baladas, essa pessoa não terá coisas boas a te oferecer. Assim que passar sua juventude e seu dinheiro, elas te abandonarão. As pessoas que vão te fazer bem, não estão na noite, essas só querem te usar.”

Então você percebe que é parte dessas gerações criadas sob a luz do moralismo. E por menos que você queira, a culpa recai sobre você. Você se questiona: será que isso é realmente tão errado? Será que o sexo casual vai ser o gatilho que te condenará a uma vida promíscua e solitária como todos dizem? Será que isso faz de você uma mulher menos digna de admiração e amor?

“Se você chegar falando de sexo pra um homem ele não vai te levar a sério… Se é sexo que você quer, é só sexo que vão querer com você. Você não pode isso, não pode aquilo…”

Mas que Diabo! Por que mesmo você não pode? Os homens podem e isso não faz deles pessoas detestáveis, afinal “eles são homens’.

A intenção não é demonizar as atitudes masculinas. A gente só quer aproveitar um pouquinho delas sem ser mandada num voo direto pra cadeira elétrica. Não é errado que duas pessoas se encontrem de noite com o único objetivo de desfrutar a troca de prazeres molhados e escuros. Que mal há nisso? Dois adultos, maiores de 18 anos, consentindo em desfrutar da pele e do suor.

Por que, quando a putaria sai da boca da mulher, ela é mais suja? Mais degradante? Então quer dizer que, se uma mulher é fã de sexo, e de sexo casual inclusive, isso reduzirá ela a tão somente isso? Ela deixa de ser uma profissional eficiente, uma pessoa interessante com o coração cheio de sentimentos só porque convida homens frequentemente para sua alcova? E porque age assim, nenhum homem jamais a verá como uma mulher que tem coração e que poderá vir a ser uma namorada, uma esposa, uma mãe amorosa?

Ah meus queridos, isso é tão errado, mas tão errado. Se um homem, que gosta de sexo e que se sente bem saindo com mulheres casualmente, achar que eu estaria me denegrindo se fizer o mesmo, definitivamente, sem sombra de dúvidas, não é esse homem que eu quero pra ser meu companheiro. Ao contrário da palestra do padre lá de cima, as pessoas mais verdadeiras são aquelas que podem te conhecer na noite, na bagaceira, ir pra cama com você só por desejo e sem pretensões, e ainda assim, essa pessoa consegue reconhecer que você tem personalidade, tem vida por trás do sexo, tem amor pra dar e essa pessoa aceita e admira o seu amor sabendo que você gosta, sim, de falar de sexo e de fazer putaria. Esse é o mais verdadeiro e o melhor que se pode querer, porque esse é o companheirismo que não depende de uma série de regras moralistas e reducionistas.

Quanto aos outros, aos imputadores de culpa, aos apontadores de dedo, e aos que se julgam juízes da vida, deixe eles longe… Eles simplesmente não entendem como você pode se soltar sozinha das amarras da moral e dos bons costumes enquanto eles agonizam dando nós cada vez mais apertados em si próprios.

P.S: Aviso de Mãe: Aproveite o casual, mas não esqueça de se proteger, de fazer seus exames regularmente e de frequentar o ginecologista. Sabe aquela propaganda da Sabesp que diz “Use bem pra não ficar sem”? É bem isso: uma DST pode fechar seu parquinho temporariamente, então se proteja pra fazer sexo sempre e de cabeça tranquila.

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