Nota de repúdio à publicidade sexista da Prudence

A Marcha Mundial das Mulheres repudia o anúncio da empresa Preservativos Prudence, pertencente à campanha “Dieta do Sexo”, por apologia ao estupro.

A publicidade foi colocada na página da Prudence no Facebook no dia 16 de julho, e só hoje (30/07/12) retirada de circulação. Tal anúncio refere-se a uma “Dieta do Sexo”, mostrando quantas calorias é possível perder praticando diferentes atos sexuais. Entre os atos citados, há dois polêmicos: “Tirando a roupa dela sem o consentimento dela: 190 cal” e “Abrindo o sutiã com uma mão,apanhando dela: 208 cal”.

Apesar da alegação de ambiguidade, o primeiro item não deixa dúvidas, pois menciona explicitamente se tratar de uma relação sexual não-consentida, e sexo sem consentimento é estupro. Pior que isso: a empresa sugere que sexo forçado (estupro) vale mais, pois gastam-se 190 calorias, do que sexo com consentimento (10 calorias).

Veicular este tipo de publicidade, sobretudo em um contexto em que a violência contra as mulheres é uma realidade alarmante, éinaceitável. Segundo dados da Fundação Perseu Abramo, a cada 2 minutos, 5 mulheres são espancadas no Brasil. Uma em cada dez mulheres (10%) já foi de fato espancada ao menos uma vez na vida. Segundo dado do Instituto Sangari (2012), de 1980 a 2010, foram assassinadas no país perto de 91 mil mulheres; 43,5 mil só na última década.

Sobre a alegação de que “estuprador não usa camisinha”, basta lembrar que, em mais de 80% dos casos de violência denunciados pelas mulheres, o responsável é o próprio parceiro (marido ou namorado). De acordo com estudo do Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos e da Flacso Brasil, em 2011, 10.425 pessoas foram atendidas em hospitais vítimas de violência sexual. Em 23% dos casos, pais e padrastos foram os responsáveis pelo abuso.

Em um primeiro momento, a Preservativos Prudence buscou, no espaço de comentários da imagem no Facebook, justificar a situação. Disse ser contrária à violência, alegando que a propaganda não faz apologia a estupro, mas sim à “conquista”. Ou seja, de acordo com a empresa, fazer sexo sem o consentimento da mulher é conquistá-la. Na tentativa de consertar a situação, só conseguiu piorá-la. Ao invés de reconhecer que a propaganda faz apologia a um crime, colocou esse tipo de agressão como algo normal, banal, uma mera “conquista”. Há de se lembrar que a minimização do estupro é uma das causas pelas quais as vítimas não têm apoio, e muitas vezes nem conseguem efetivar uma denúncia. Quando tomam a iniciativa de denunciar o agressor, é comum ainda serem responsabilizadas pela própria agressão devido a seu “comportamento permissivo”.

Em seguida, a empresa, afirmou, novamente, no Facebook, não defender a prática do estupro, alegando que essa “piada” já havia sido divulgada antes, em vários blogs, em uma clara tentativa de tirar dos próprios ombros a responsabilidade pela veiculação de uma propaganda que banaliza a situação de estupro, e que, assim, contribui para a manutenção de uma realidade perversa para as mulheres.

Em momento algum houve reconhecimento do fato. Em nenhum dos pronunciamentos da Preservativos Prudence foi dito que sexo sem consentimento é estupro. Apenas foram emitidas afirmações vagas de que a empresa é contra a violência sexual e a favor do uso de camisinha em todas as relações.

Nós, da Marcha Mundial das Mulheres, estamos ao lado das mulheres que vivenciam a violência, todos os dias, no Brasil, portanto, exigimos que haja uma retratação pública por parte da empresa, em que ela reconheça que o conteúdo da propaganda faz apologia ao estupro. Exigimos que a Preservativos Prudence invista em uma campanha cidadã de combate à violência contra as mulheres. Exigimos, também, que sejam tomadas as devidas providências legais com relação ao conteúdo veiculado.

A violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer!

Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres!

Marcha Mundial das Mulheres

 

 

Fonte: Marcha Mundial das Mulheres

+ sobre o tema

Mães criam grupo ”antiterrorismo” contra empregadas

Elas trocam e-mails com observações sobre sua relação com...

Reparações e compilações – Sueli Carneiro

O jornal O Tempo, de Belo Horizonte, procurou-me, esta...

Giovana Xavier: “Resistir é visibilizar o que fazemos todos os dias”

Convidada do Mulher com a Palavra, professora da UFRJ...

para lembrar

23% das jovens negras nos EUA se identificam como bissexuais

Das mulheres que responderam à Pesquisa Geral Social de...

Paternidade ativa: ilustrações registram amor entre um pai e sua filha

Paternidade ativa: ilustrações registram amor entre um pai e...

Alagoas facilita casamento de homossexuais

A decisão que reconheceu a união homoafetiva estável em...
spot_imgspot_img

Disparidade salarial cresce, e mulheres ganham 20,7% menos do que homens no Brasil

A disparidade salarial entre homens e mulheres no Brasil aumentou no período de um ano, e mulheres receberam, em média, 20,7% menos do que...

Mulheres Negras: Encruzilhadas de Raça e Gênero

Encontro "Mulheres Negras: Encruzilhadas de Raça e Gênero" com Sueli Carneiro e Neon Cunha acontece amanhã, 19h on-line Sueli Carneiro e Neon Cunha, referências no...

Selo dos Correios celebra Luiza Bairros, ex-ministra e ativista negra

Os Correios e o Ministério da Igualdade Racial lançam nesta terça-feira (17) um selo em homenagem à socióloga gaúcha Luiza Bairros, ex-ministra da Secretaria de Políticas de Promoção...
-+=