Adolescência: rituais africanos que marcavam os jovens guerreiros

Nossos ancestrais africanos surgem por meio de seus ritos de passagem para a idade adulta, bem demarcados e vindos para cá por conta do tráfico escravo. Sabe-se que no Golfo da Guiné, de onde saíram as primeiras levas destes imigrantes forçados, cada aspecto da vida cotidiana permitia uma forma de aprendizado. A formação da juventude seguia um programa preciso e velava sobre a aquisição de virtudes morais, habilidades manuais, técnicas e guerreiras, atividades artesanais, comerciais ou místicas. Este desenvolvimento também incluía o desenvolvimento corporal, a sociabilidade, a obediência à ordem, o respeito à parentela, aos laços de sangue e a autoridade.

Do História Hoje

A violência era permitida e encorajada por batalhas ritualizadas, que marcavam a passagem entre o menino e o guerreiro. Apostando na beleza física, na elegância dos trajes e dos penteados, na virilidade e insolência, adolescentes africanos construíam uma cultura particular. A estatuária em barro, feita na região de Kaduna, atual Nigéria, revela o rosto destes jovens cujo penteado cuidadoso em forma de coque era coroado por penas, e ornamentados com cachos e tranças laterais. Anéis e braceletes colocados nos tornozelos aumentavam seu poder de sedução.

A festa da circuncisão, na entrada da adolescência, era realizada com música e dança que registrasse a importância do momento. Os cucumbis ou quicumbis – do quibundo “puberdade” – são os remanescentes desta tradição no folclore brasileiro. Com ranchos de canta e dança, realizados nas proximidades do Natal, época das congadas e da coroação do “Rei Congo”, um cortejo apresentava os “mametos” recém-circuncidados à rainha do Congo, após a lauta refeição do “cucumbe”!

Especialistas afirmam que a verdadeira origem da Capoeira é um ritual africano, chamado de N’golo, que marcava a passagem para a vida adulta. Neste ritual, os jovens guerreiros das tribos disputavam, com movimentos baseados na luta das zebras, as jovens mulheres e cabia a quem melhor sobressaía-se, o direito de escolher sua esposa entre as jovens, sem o pagamento do dote matrimonial. Os cativos descobriram que estes movimentos das zebras, quando usados com rapidez, destreza e malícia poderiam ser fatais para o oponente. Diante de sua situação difícil e da violência a eles imposta, eles começaram, sempre que podiam, a ensaiar esta forma de luta nas capoeiras dos canaviais, lugares nas plantações de cana de açúcar onde o mato fora queimado para o cultivo da terra.

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Texto de Mary del Priore. “Histórias da Gente Brasileira: Colônia (vol.1)”, Editora LeYa, 2016.

Jean-Baptiste Debret: a prática da capoeira.

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