Após 170 anos, papel do negro na Revolução Farroupilha ainda é minimizado, diz doutora em história

Doutora em história, Fernanda Oliveira observa que negro se tornou soldado na revolução não apenas por necessidade, mas por suas habilidades.

Do G1 

A participação do negro na Revolução Farroupilha (1983-1845) ainda é um assunto pouco falado nos livros de história, mas volta à tona nesta quarta-feira (20), quando se comemora a revolta no Rio Grande do Sul.

Conforme a doutora em história Fernanda Oliveira, o negro se tornou soldado na revolução não apenas por necessidade, mas por suas habilidades. O papel deles seria maior do que “constituir a espinha dorsal das forças rebeldes”, como cita um livro voltado a alunos de Ensino Médio.

“Era necessário repor as forças porque a deserção era muito comum, então, era preciso ter gente. Mas mais que isso, em geral os escravizados que compuseram os corpos de lanceiros negros eram altamente especialistas, e isso era importante dessas novas pesquisas, mostrar que além da participação desses jeitos, eles eram necessários para o Exército Farroupilha.”

Para a doutora, a forma com que os negros são retratados nos livros, de maneira praticamente invisível, acaba interferindo na memória coletiva gaúcha.

“À medida que a gente tem isso escrito da história, isso vai reverberar na possibilidade de repensar, tanto na memória coletiva gaúcha, onde a população negra está, faz parte dessa memória gaúcha, por outro lado, a construção de uma identidade gaúcha, que também contempla os afrogaúchos”, diz ela.

“Muitos negros no Rio Grande do Sul reivindicam essa identidade gaúcha, e isso não é uma coisa nova.”

Doutora Fernanda Oliveira observa que negros participaram da Revolução Farroupilha não só por necessidade, mas por suas habilidades (Foto: Reprodução/RBS TV)

 

Nesta semana, um evento em Porto Alegre discutiu o Massacre de Porongos, em 1843, que ocorreu em meio à Revolução Farroupilha. Na batalha, diversos negros desarmados foram mortos por tropas imperiais. O evento, que ganhou o nome de Enegrecendo Setembro, ocorre até o fim do mês no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS).

Quem participou do evento deixou o local com uma nova visão da revolução. “É sempre a mesma história, dos grandes heróis, uma revolta que foi da elite gaúcha, que acabou passando como uma revolta do povo gaúcho. E não foi, o povo foi a reboque”, observa a professora de geografia Aline Hendz.

A professora de música Dana Farias relata vergonha à maneira com que o negro é retratado na história.

“A gente fica até um pouco envergonhado quando está em uma sala de aula, em que citam os negros sempre como sendo aquele papel pequeno na história, sempre escravizado, nunca o herói, nunca a pessoa que a gente fez a diferença.”

“Eles evitam expor a nossa participação ou dizer que a gente pode ter feito algo que contribuiu para uma mudança enorme”, observa o estudante de gestão ambiental Mateus Madril Benites.

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