Editora Malê reúne autores negros para mudar a realidade do mercado que os retrata como bandidos, empregados ou escravos, e onde só 2,5% de romancistas eram negros até 2014
Por ANDRÉ DE OLIVEIRA, do El Pais
Vagner Amaro, editor da Malê LUCAS LANDAU (Reprodução El Pais )
Em meados de 2013, Vagner Amaro emperrou na tarefa de montar um acervo de literatura contemporânea de autoria negra na biblioteca em que trabalhava: encontrava-se pouca coisa e com dificuldade no circuito comercial de livrarias e editoras. Passados alguns anos, em 2015, descobriu que a autora recém premiada com o prestigiado Jabuti pelo livro de contos Olhos D’Água, Conceição Evaristo, tinha grande parte da sua produção fora das prateleiras e catálogos, quando não esgotada e sem reedições. Os dois eventos, Amaro já sabia, não eram mero acaso, mas o reflexo de um mercado consolidado que torna invisível a produção literária de autores e autoras negros. Assim, pouco tempo depois, ele fundou a Malê, uma pequena editora carioca voltada para publicação de literatura de autoria negra.
Com pouco mais de dois anos e cerca de 30 títulos, a Malê– nome inspirado na revolta dos malês, levante de escravos na cidade de Salvador, que aconteceu em 1835 – alcançou um prestígio que é prova de que o editor estava certo não apenas sobre a invisibilidade de autores negros no mercado, mas também sobre a oportunidade oferecida por essa lacuna. No último dia 1º de maio, o autor moçambicano Dany Wambire participou da Feira Nacional de Livros de Poços de Caldas, e, no final de julho, o congolês Alain Mabanckou participará da Flip 2018 – Festa Literária Internacional de Paraty – ambos editados pela Malê. “Eu parti de um problema que afetava a literatura brasileira, mas hoje ampliamos este foco para autores afrodescendentes e africanos, principalmente os que ainda não foram editados aqui, como é o caso dos dois”, diz Amaro.