O Brasil foi construído pela escravização de milhares de pessoas negras, algo que ocorreu por alguns séculos com a permissão e até incentivo do Estado e da Igreja Católica. Isso foi justificado com ideias racistas, tais como a certeza de que negros não possuíam alma – informação divulgada pela própria Igreja Católica.
Por Jarid Arraes, do Questão de Gênero
Hoje, o Brasil tem pouco mais de 500 anos de história desde que os colonizadoras europeus invadiram essas terras. Mais da metade da nossa história se passou enquanto a escravidão ainda era uma realidade permitida. E, mesmo depois que a escravidão foi abolida, toda a população negra ficou jogada à própria sorte, submetida a trabalhos precários e a uma situação de vida miserável.
Faz pouquíssimo tempo desde que o nosso país criminalizou a escravidão. As consequências desses séculos de exploração das pessoas negras são enfrentadas até hoje e se manifestam em forma de racismo e pobreza. É necessário também falarmos sobre a escravidão moderna, já que ainda hoje a escravidão é uma realidade em vários regiões do país e a maioria das pessoas que vivem em situação de escravidão são não-brancas.
O fato é que ainda não tivemos tempo e nem medidas concretas o suficiente para enfrentar as consequências da escravidão no Brasil. Após séculos ensinando que negros não possuem alma, ou que são mais sujos, mais burros e inferiores, tivemos pouquíssimo tempo para combater essas ideias racistas tão enraizadas, sobretudo se pararmos para pensar que o Brasil é um país que usa seus altos índices de miscigenação como maneira de mascarar o racismo mordaz e cotidiano.
Na realidade, as pessoas negras ainda são vistas sob uma ótica racista e continuam sendo desvalorizadas por causa de sua aparência. Desde a hostilização contra os cabelos crespos até os deboches e agressões contra as pessoas de pele mais escura, a aparência continua sendo critério de discriminação e, por isso, milhares de pessoas negras são tratadas como “suspeitas” ou “criminosas” por causa de suas características físicas. Milhares de pessoas são vítimas de preconceito todos os dias apenas porque são negras.
As características físicas deveriam ser fatores que nos descrevem exteriormente, algo tão simples como “baixo” e “alto”; ser negro, branco ou indígena poderia ser simplesmente um fator de descrição, mas lamentavelmente ainda são adjetivos posicionados em uma hierarquia social de beleza, confiabilidade e intelectualismo. Se a cor da pele e o cabelo crespo ainda são critérios utilizados para discriminar e agredir, isso é algo que precisa ser urgentemente combatido.
Portanto, o Dia da Consciência Negra, que existe para relembrar a luta das pessoas negras contra a escravidão no Brasil, ainda é uma data necessária. Depois de mais da metade da nossa história ser construída sob a escravidão, precisamos lutar contra os valores arcaicos e racistas que ainda contaminam nossas relações sociais.
Para aquelas pessoas que não concordam com o racismo e que lutam para que o preconceito racial deixe de existir, o dia 20 de novembro é uma oportunidade de focar essas questões e mobilizar ações que visam o combate ao racismo. Sem atitudes tão necessárias como essas, milhares de pessoas continuarão sendo vítimas da violência e da marginalização social apenas por serem negras.
Para ler mais sobre o tema, deixo links que falam sobre muitas das questões comumente levantadas no mês da Consciência Negra:
– A Consciência Humana precisa se conscientizar
– O racismo não está nas diferenças:
– Heroínas negras na história do Brasil
– E Dandara dos Palmares, você sabe quem foi?
– Preta Simoa e a Abolição no Ceará: uma história de esquecimento
Foto de capa: Reprodução / Facebook