Negros denunciam preconceito, sobretudo na periferia, com hashtag #NaFortalezaRacista

Campanha reúne relatos de quem vivenciou o racismo na pele, inclusive em abordagens policiais, e busca conscientizar a população e mostrar que o preconceito é cotidiano

Do O Povo

 

Com o objetivo de denunciar o racismo no cotidiano de Fortaleza, jovens negros da periferia da Capital usam a hashtag #NaFortalezaRacista para compartilhar relatos que inclui racismo cotidiano, institucional, violência policial e assédio. As postagens tiveram início no começo desta semana, mas são planejadas há pelo menos 15 dias por grupos que integram o movimento negro.

San Souza, 29, morador do Bom Jardim, fotógrafo e integrante do Coletivo Motim, particiou do planejamento da implantação da iniciativa. “Nosso objetivo é mostrar o que acontece com pessoas negras na Cidade. Aqui a gente percebe o racismo muito instaurado nas instituições, a exemplo da Guarda Municipal e da Polícia Militar. É muito visível e eles não fazem questão de esconder”, aponta.

Souza indica que o preconceito aparece de diversas formas e nos mais variados locais. “Muito tempo atrás, eu já fui perseguido por segurança em uma loja e hoje você vê isso acontecendo com muita frequência. Ninguém faz nada quanto a isso. O Ministério Público não está nem aí”, protesta.

Concentrada no Facebook, a hashtag pode chegar a outras redes sociais, de acordo com o fotógrafo.

O racismo velado e naturalizado

Helena Barbosa, 29, é diretora de formação e criação artística no Instituto Ecoa, em Sobral. Nascida em Trairi, litoral oeste do Estado, foi morar na comunidade do Castelo Encantado, em Fortaleza, aos 8 anos de idade. De lá para cá, teve que enfrentar uma sociedade racista.

“Não quero nunca mais ter de escutar que só porque meu filho é branco eu não sou a mãe dele, sou a babá. Tenho uma irmã branca e já me perguntaram várias vezes se ela é a mãe e eu só a pessoa que cuida. Quando me relaciono com brancos, pensam que meu parceiro é estrangeiro e eu sou prostituta”, aponta.

Helena relata que foram muitas pedras em seu caminho até ela chegar aonde está hoje: um cargo de chefia sendo uma mulher negra, de quase 30 anos e mãe.”Escuto muitas coisas ainda sobre meu cabelo, sobre minhas roupas e sobre quem eu sou, nos corredores, de forma velada. Mesmo em cargos mais altos, a gente tem de passar por isso. O racismo está sendo naturalizado na sociedade”, aponta Barbosa.

Pela busca do Facebook, é possível perceber casos que denunciam violência policial. San conta que, dentro de terminais de ônibus, esse fato é “muito perceptível”. “Eles nem perguntam mais nada, só forçam, batem e fazem pressão psicológica no jovem negro e pobre. A gente quer bater de frente e ver alguma mudança de atitude com essa hashtag”, comenta.

Em entrevista ao O POVO online, Lucas Vidal, 26 anos artista, conta que voltava pra casa, há cerca de um ano, quando foi abordado na avenida Domingos Olímpio. “Fui confundido com um suspeito de crime. Eles mandaram eu descer da bicicleta e não deixaram eu falar nada. Nunca me disseram o motivo”.

Para Lucas, a questão vai além da violência institucional. “A gente vê muito assédio sexual e hiperssexualização do corpo do negro. Os relatos vêm pra mostrar que o racismo em Fortaleza existe sim e é cotidiano. Mostra que aqui no Ceará tem muito negro sim, ao contrário do que pensam”.

Confira relatos:

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