Grécia, França e Espanha, os países europeus mais antissemitas

O debate sobre o preconceito contra os judeus estoura na Espanha após um escândalo no Twitter.

Em pleno debate sobre se existe ou não uma crescente onda de antissemitismo na Espanha – onde a comunidade judaica denunciou vários usuários do Twitter por causa de mensagens de ódio aos judeus após um jogo de basquete, no domingo –, um estudo global aponta Grécia, França e Espanha como os países europeus com mais estereótipos de rejeição aos judeus. A pesquisa, encomendada pela Liga Antidifamação, uma organização judaica que tem sede nos EUA e luta contra o ódio aos judeus no mundo todo, ouviu 53.100 pessoas em cerca de cem países, concluindo que o antissemitismo é “persistente” e “generalizado” no mundo. Segundo o estudo, os três países citados são, na Europa, aqueles onde há mais cidadãos com preconceitos contra os judeus.

De acordo com o relatório, 29% dos espanhóis responderam afirmativamente a pelo menos metade dos estereótipos negativos apresentados, tais quais: “Os judeus são mais leais a Israel que à Espanha”, ou “só se preocupam do que acontece com os seus semelhantes”. No ranking europeu do antissemitismo, a Espanha aparece atrás da Grécia (com um percentual elevado, de 69%) e da França (37%), e seguida bem de perto pela Áustria (28%), Bélgica (27%) e Alemanha (27%). O Brasil marcou 16% no índice geral, sendo 42% de resposta afirmativa ao estereótipo de que os judeus são mais leais a Israel do que ao Brasil; 57% acham que os judeus falam demais do Holocausto.

Para 65% dos entrevistados na Espanha, é “provavelmente verdade” que os judeus sejam mais leais a Israel do que à Espanha. Para 53%, os judeus têm muito poder no mundo dos negócios, e 50% acham que seu poder se estende aos mercados internacionais. Na opinião de 48% dos espanhóis, a comunidade judaica continua falando muito sobre o que lhe aconteceu no Holocausto, e 26% acreditam que eles só se preocupam com o que ocorre com os seus semelhantes.

“Na Espanha há um antissemitismo preconceituoso latente”, afirma Esteban Ibarra, presidente do Movimento contra a Intolerância e membro do Observatório de Antissemitismo na Espanha. “O mais perigoso, que é o de caráter neonazista, é o mais ativo na internet”, acrescenta. O especialista observa que, no observatório espanhol, foi detectado um aumento da atividade neonazista na rede, e nos últimos quatro anos o número de sites, blogs, fóruns e outros espaços cibernéticos de caráter antissemita ou racista quintuplicou – de 300 para 1.500 endereços.

“Aqui, a rejeição aos judeus não se projeta politicamente, como em outros países, como por exemplo a Grécia com a Aurora Dourada”, acrescenta Ibarra, que se queixa de que “falta educação contra o antissemitismo e a intolerância em geral”. Ibarra cita entre as manifestações de intolerância mais dominantes na Espanha a xenofobia, a islamofobia, a homofobia e o antissemitismo.

O especialista também defende que se puna penalmente a “incitação” ao ódio, e não só a “apologia”, como prevê o Código Penal. O artigo 510 estipula pena de um a três anos para quem “fizer apologia da discriminação, ódio ou violência contra grupos ou entidades por motivos raciais, antissemitas ou outros referentes a ideologia, religião ou crenças, situação familiar, pertencimento dos seus membros a uma etnia ou raça, origem nacional, sexo, orientação sexual, enfermidade ou deficiência”.

A apologia, entretanto, exige uma consequência direta, ou seja, que das mensagens decorram delitos. “Aí está a chave da impunidade no Twitter: nos últimos 15 anos nós não obtivemos nem uma só condenação por apologia”, conclui Ibarra. A reforma do Código Penal que está tramitando no Congresso espanhol inclui a “incitação” e introduz como agravante o uso da internet para difundir essas mensagens, especialmente as que implicam a negação do Holocausto.

“Mas o antissemitismo não se cura só com a lei e o castigo”, acrescenta Isaac Querub, presidente da Federação de Comunidades Judaicas da Espanha. “Trata-se de educar as crianças e adolescentes nas escolas e colégios sobre o respeito ao outro, sobre o respeito à diversidade e à liberdade e sobre o direito à diferença”, observa. Querub entende que o antissemitismo é um problema “preocupante” na Espanha, porque “é o sintoma de uma enfermidade grave no seio de uma sociedade, de desequilíbrio, de complexos, de insegurança e de falta de identidade em nível individual”.

Segundo o estudo, a maior concentração de preconceitos antissemitas no mundo se dá no Oriente Próximo e no norte da África, onde quase três quartos dos pesquisados responderam afirmativamente a pelo menos 6 dos 11 estereótipos negativos expostos sobre os judeus. Gaza e Cisjordânia são os territórios onde mais se concentra o ódio aos judeus (93%), seguidas de Iraque (92%), Iêmen (88%), Argélia (87%), Líbia (87%), Tunísia (86%), Kuwait (82%), Bahrein (81%), Jordânia (81%) e Marrocos (80%). Fora dessa região, a Grécia (69%) é o país com maior percentual de respostas antissemitas. No outro extremo, os países com menos estereótipos negativos sobre os judeus são Laos (apenas 0,2%), Filipinas (3%), Suécia (4%), Noruega (5%), Vietnã (6%), Grã-Bretanha (8%), Estados Unidos (9%), Dinamarca (9%), Tanzânia (12%) e Tailândia (13%).

Só 54% dos entrevistados ouviram falar do Holocausto, uma conclusão “preocupante” na avaliação da organização. A afirmação preconceituosa mais difundida no mundo é a de que “os judeus são mais leais a Israel do que aos países onde vivem”. Em nível mundial, 41% de todos os pesquisados responderam afirmativamente a essa pergunta.

Fonte: El País

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