‘Falta enxergar negros em personagens onde estão sendo simplesmente pessoas’, diz Mariana Nunes, de ‘Carcereiros’

Atriz fala ao G1 sobre segunda temporada da série da Globo e conta que sua personagem está ‘mais forte, muito mais segura e conectada com seu próprio desejo’.

Por Marília Neves, G1

Mariana Nunes em cena de “Carcereiros” com Rodrigo Lombardi — Foto: Globo/Divulgação

Mariana Nunes voltou para a televisão na pele da Janaína de “Carcereiros”. Na segunda temporada da série, a professora “estará mais forte, muito mais segura e conectada com seu próprio desejo”, explica ela ao G1.

Na temporada anterior, Janaína havia sido traída pelo carcereiro Adriano (Rodrigo Lombardi), mas nos novos capítulos, verá o marido tentando retomar o casamento após se envolver com uma presidiária.

“Na primeira temporada, ela está muito faltosa, desejosa, querendo uma coisa que ela não tem. E agora que ela está realizada, ela está muito mais tranquila. Porque ele tenta, mas não larga esse presídio. E não dá pra ele estar presente em casa, tão junto e em tempo tão integral.”

Questionada se sente falta de ser convocadas para obras mais leves do que a série e outros filmes recentes (veja lista abaixo), Mariana aproveita para levantar a bandeira de uma de suas constantes lutas: a igualdade racial.

“Ator e atriz gostam de trabalhar. E quanto mais complexidade nos trabalhos que a gente recebe, é melhor. Porque a gente gosta do babado”.

“Por outro lado, acho que a gente está precisando abrir a cabeça de puxar a corda pra outra ponta. Porque, apesar de ser uma mulher negra, atriz, militante, que acha importantíssimo falar sobre essas coisas, eu também sou uma mulher normal, que tenho minha vida e meus dramas como toda mulher tem”.

“Falta também enxergar atores negros em personagens onde eles estão sendo simplesmente pessoas, estão simplesmente existindo”.

Racismo no set de filmagem

Mariana Nunes — Foto: Globo/Gustavo Scatena

Mariana Nunes conta que se viu militante quando foi para o mercado de trabalho. “Aí a gente vê como a coisa funciona, que num set de filmagem existe racismo, sim, e que as coisas são colocadas hierarquicamente – o que é legal -, mas muitas vezes as pessoas são desrespeitadas por serem mulheres, negras. É muito difícil que as pessoas sejam tratadas de uma forma igual.”

“Eu sou uma atriz que não sou muito famosa, então acontece de eu chegar e a equipe não me reconhecer e achar que sou uma figurante. E OK ser figurante, é um trabalho digno como qualquer outro, só que no caso eu não sou. O que faz essa pessoa achar que sou figurante e não sou atriz protagonista do filme? O nome disso é racismo.”

Mariana ainda comenta que os episódios de racismo vividos são diários: “Um olhar, uma palavra torta, são coisas pequenas, não é uma grande história”.

“Claro que acontece também. Mas se eu falo, fica parecendo que racismo e só quando alguém vai e te xinga ou alguém te confunde e tal. Não! É cotidiano, de dia a dia, de falta de atenção ao outro”.

Abolicionista, cotista…

“Carcereiros” não é o único projeto de Mariana para 2019. A atriz enumera e explica alguns filmes que já gravou, ainda sem data de lançamento:

  • “Prisioneiro da liberdade”, de Jeferson De: “Conta a história do Luís Gama. É um filme de época, que a gente fez agora em janeiro em Paraty. Um filme importantíssimo. É a primeira vez que a gente fala desse herói brasileiro, um grande abolicionista. Faço a esposa dele”.
  • “M8 – Quando a morte socorre a vida”, outro de Jeferson De: “Estou apaixonada pelo roteiro. Ele conta a história de um jovem estudante cotista de medicina, que na escola, começa a ter aula de anatomia e todos os cadáveres são homens negros. Começa daí o filme”
  • “Um dia qualquer”, de Pedro Von Krüger: “Um filme que fala sobre milícia, trafico, no Rio de Janeiro. Faço uma mãe que perde o filho e passa 24 horas procurando esse menino. Ela é uma ex-traficante, agora evangélica convertida, mas acaba sendo convocada a ter uma postura mais radical por conta dessa morte do filho dela”.

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