O primeiro grande debate presidencial via TV

Por Cidinha da Silva

Dilma é, de longe, a candidata mais preparada. Não foge das perguntas porque tem o que dizer para além da boa retórica, característica da raposa Aécio, que além da retórica, não tem nada, é pó.

Eduardo Jorge, a seu turno, parecia virado no louco. Embora seja testemunha de seu trabalho em São Paulo e saiba que ele é um homem sério, jogar para a galera para ver o que dá já foi comportamento inovador, mas, hoje, está suficientemente cristalizado pela velha política. Ademais, foi de uma deselegância inaceitável sequer mencionar a vice, Célia Sacramento, que desmanchava-se em sorrisos a seu lado quando da entrevista de chegada aos estúdios de TV. Foi deprimente perceber a sintonia do candidato do PV e da câmera de TV para alijar Célia do enquadramento que seria transmitido aos telespectadores.

Luciana fala para um público de militância estudantil universitária das melhores universidades do país, daquelas em que se lê tomos e mais tomos de ciência política e econômica. Ela não consegue alcançar as pessoas simples e não-intelectualizadas.

Marina é tão demodé com essa terceira via entre PT e PSDB e que se pretende trans-galática, mas é, de fato, comesinha e velha conhecida de todos. É postura típica do ultrapassado e enfadonho em cima do muro que quer ressuscitar (da aposentadoria) o combativo Pedro Simon (homem de 84 anos, com filho adolescente, deixa o cara descansar).

Dos outros dois candidatos destaco as belas e elegantes acompanhantes que eles fizeram questão de ostentar antes de iniciado o debate presidencial.

Destaco também a ausência da temática racial na agenda de todos os candidatos e candidatas, do genocídio da juventude negra, do racismo institucional, até da parte de Dilma, que tem coisas a dizer nesse campo. Quando a atual Presidenta mencionou a ampliação do acesso das pessoas pobres às universidades, conseguiu citar as novas universidades construídas pelos governos Lula e Dilma (18), o PROUNI, mas, deliberadamente (por orientação da assessoria, imagino), ocultou os 56 mil estudantes negros (dados da SEPPIR) que devem ingressar anualmente nas universidades públicas federais a partir da Lei 12.711/2012, a Lei de Cotas para o Ensino Superior.

Imagino que sua assessoria ache que o tema não gera votos e pode aguçar a irritação das pessoas brancas de classe média que antes votavam no PT e agora, depois que as coisas bem estabelecidas (para elas) saíram um pouco do lugar, querem a volta do conservadorismo que lhes restitua os privilégios. Tomara que Dilma não embarque nessa canoa furada, porque a problematização do racismo estrutural brasileiro, cuja ação de enfrentamento, capitaneada pela SEPPIR de sua gestão, está sendo objeto de estudos e elogios da ONU, pode ser o diferencial de sua campanha e pode alavancar mudanças de fundo no país.

Que os candidatos negros, Marina e Everaldo (torço para que ele não se ofenda porque o classifico como negro) também digam alguma coisa sobre sua condição e dos demais 52% da população do país.

Que a esquerda de Luciana e Eduardo Jorge continue a problematizar a criminalização do aborto e combate à homofobia, mas que também inclua em sua pauta o combate ao racismo. Que, pelo menos, Célia Sacramento não seja invisibilizada e possa falar.

Aguardamos pelos 3 próximos debates em rede televisiva nacional.

 

 

 

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