O Brasil invisível ou invisibilizado?

No último dia 11, o Auditório do Ibirapuera protagonizou um dos eventos mais criativos dos últimos anos, como o próprio nome diz: Prêmio Movimentos Criativos. Após o trabalho intenso dos organizadores que, junto aos noves renomados curadores, vinte e sete nomes de jovens negros, de dezenove estados, foram indicados para a final, isto é, para o grande encontro, uma vez que estar junto a todos eles já poderiam ser considerados a maior premiação.

Por Renata Martins, do Brasil Post

A apresentadora do Metrópoles, Adriana Couto, foi a Mestre de cerimônia ao lado de Sérgio Oliveira, cantor e multinstrumentista. Ambos conduziram a premiação com graça e leveza e, melhor, estavam em casa.

Após pílulas artísticas de grupos como Treme-Terra e o percussionista Dinho Nascimento, assim como, o bailinho black, que transcendia ao palco e contaminava o público em suas poltronas, os 27 nomes foram anunciados e suas imagens virtuais cediam espaço para as imagens projetadas em tempo real, tal qual a premiação do Oscar. Eram eles:

André de Oliveira Bruno, Cia Sancroma, Diego Rocha Garcia, Dj Miria Santos Alves, Edson Ikê, Elizandra Souza, Emiliano de Camargo David, Enderson Araújo, Fernanda Júlia, Fernando Hacklab, Georgia Gabriela da Silva Sampaio, Grupo Opni, Izabel de Jesus Barbosa, Jaciana Melquiades, Jota Angelo, Mostra de Criadores em Moda: Mulheres Afro Latinas, Rafael Reis Barbosa, Renata Martins, Renata Ribeiro de Oliveira, Silvani das Chagas,Tatiana Tiburcio Thiago Vinicius, Vanda Lucia Bastos,Vanessa Dias. Todos negros.

Éramos médicos, cineastas, engenheiros, professores, artistas, educadores,
vlogueiros, blogueiros, jornalistas, filósofos, músicos, estilistas, Dj, produtores…
éramos muitos – e já estivemos diaristas, office boy, atendentes, mecânicos,
secretários, estudantes, mas, naquela noite, éramos o que nos tornamos, o que buscamos e batalhamos ser.

A noite de premiação trouxe a sensação de que, muito mais de nossa história nos foi arrancada, tanto do nosso passado, quanto do nosso presente e também a possiblidade de um futuro, já que, se não somos vistos, não inspiramos, não existimos.

Entre os finalistas, na categoria conhecimentos estava Edivan Nascimento Pereira – Moju – Pará – “Os bairros da periferia e as regiões ribeirinhas de Moju não possuem tratamento de água adequado. Como consequência a população local sofre constamente com doenças causadas de água não potável”

Empenhado em melhorar a qualidade de vida dessas pessoas, Edivan aproveitou o caroço do açaí para desenvolver um tipo de carvão para purificar a água e melhor a qualidade de vida da população.

Geórgia Gabriela da Silva Sampaio foi outra indicada. Seu nome viralizou na rede quando seu projeto de pesquisa sobre um novo método de diagnóstico para endometriose foi premiado pela Harvard Social Innovation Collaborative, e Georgia foi nomeada por uma instituição Traiblazer – Título dado a jovens empreendedores ao redor do mundo que elaboram projetos inovadores para sua comunidade. Em março de 2015, foi aceita em nove universidades dos Estados Unidos e considerada um dos talentos na ciência mais promissoras do Brasil.

Entres os grandes vencedores da noite estiveram: Jaciana Melquiades, historiadora formada pela UERJ e uma das idealizadoras do coletivo Meninas Black Power, além disso, é sócia de seu marido Leandro Melquiades na microempresa – Era uma vez no mundo – cujo o objetivo é desenvolver brinquedos e materiais afirmativos para auxiliar no processo educativo e de fortalecimento identitário das crianças negras.

Rafael Reis Barbosa, de São Carlos, foi outro vencedor. Segundo os organizadores, Rafael foi criado pela mãe e avó, e sempre foi um menino curioso e desde muito cedo se interessou por ciência e tecnologia. Na adolescência foi vencedor regional de xadrez. Quando adulto essa curiosidade se transformou em seu trabalho. Ele é formado em engenharia física e matriculado em engenharia de produção na UFSCAR. É inventor e possui seis patentes registradas, além de ser dono de três startups – a Sanca Valley, a king Consultoria e a Green Bas, esta última foi que levou Rafael a indicação e premiação, pois seu trabalho é levar energia renovável de baixo custo para comunidade.

Esses rostos e todas essas ações nos mostram que há muito da população negra para ser visibilizada, admirada e compartilhada, ainda que tentem nos exterminar física e intelectualmente, somos muitos e estamos em vários lugares. Estamos na periferia, assim como estamos nas artes, na tecnologia, no transporte público e também privado. Na noite do dia 11/12, nove indicados levaram o troféu, mas quem ganhou junto a eles, fomos todos nós que ansiamos por uma sociedade mais múltipla. Todos nós, população negra.

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