Cauteloso, Obama recebe Bibi

Fonte: O Estado de São Paulo
Gustavo Chacra, NOVA YORK

O premiê de Israel, Binyamin “Bibi” Netanyahu, desembarca amanhã em Washington como o líder israelense menos bem-vindo em seis décadas de uma relação fraternal entre os dois países, na qual os EUA quase sempre defenderam os interesses do Estado judeu.

A chegada de Barack Obama à Casa Branca, com uma administração que se diz comprometida com uma solução de dois Estados, coincidiu com a eleição de uma coalizão conservadora em Israel, que, como alguns governos anteriores, é composta por alguns partidos que nem sequer reconhecem o direito de os palestinos terem um país no futuro.

Hoje, os americanos adotam uma visão mais próxima da Liga Árabe e da oposição israelense, que defendem um Estado na Cisjordânia e em Gaza, apesar de divergências sobre o status de Jerusalém e o direito de retorno dos refugiados.

O cenário atual contrasta com os últimos oito anos de apoio incondicional de George W. Bush a Israel. Em poucos momentos nos 61 anos do Estado judeu houve discordância entre o governo israelense e o americano. Quando Israel foi criado, em 1948, o então presidente dos EUA, Harry Truman, demorou apenas 11 minutos para reconhecer o novo país.

Durante o governo Bush, Israel e EUA estreitaram os laços econômicos, militares, diplomáticos e culturais. Israel, segundo sua embaixada em Washington, possui mais companhias listadas na Nasdaq (bolsa de valores eletrônica) do que qualquer outro país fora da América do Norte. A ajuda militar dos EUA a Israel é a maior em todo o planeta. As Forças Armadas israelenses receberão ao longo desta década cerca de US$ 30 bilhões dos EUA. Na diplomacia, os americanos, apenas entre 2001 e 2008, vetaram dez resoluções na ONU contrárias a Israel.

Obama, quando candidato, foi até a Aipac, principal organização pró-Israel dos EUA, e disse que a “segurança de Israel é sagrada. (…) E Jerusalém permanecerá como a capital indivisível de Israel”. Um discurso conservador, no qual negou aos palestinos o direito de reivindicar a parte oriental da cidade como capital. Eleito, manteve silêncio durante a guerra em Gaza. Já no poder, Obama também teve atitudes que indicavam que as relações com os israelenses não se alterariam.

LOBBY NO CONGRESSO

Mas nas últimas semanas o governo americano deu uma guinada demonstrando insatisfação com políticas israelenses. Na mesma Aipac em que Obama discursou na campanha, seu vice, Joe Biden, criticou o governo de Israel no início do mês. “Israel não deve construir mais assentamentos, precisa desmantelar postos avançados (assentamentos erguidos à revelia do governo) e permitir que palestinos tenham liberdade de movimento”, afirmou.

A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, e o enviado especial ao Oriente Médio, George Mitchell, também pressionaram Israel a levantar restrições aos palestinos.

“As medidas ainda representam pouco e Obama talvez não tenha forças para combater interesses israelenses nos EUA”, disse ao Estado John Mearsheimer, professor da Universidade de Chicago e autor do polêmico livro “O Lobby de Israel”. Para ele, um dos principais obstáculos será o Congresso, quase sempre unânime no apoio aos israelenses.

Uma das saídas para superar o impasse, segundo o professor, seria o crescimento de movimentos judaicos favoráveis a uma solução de dois Estados. Um deles, o Israeli Policy Forum, publicou um anúncio de uma página no New York Times de sexta-feira defendendo o fim da construção dos assentamentos na Cisjordânia. O próprio jornal declarou, em editorial, que o presidente deve impor sua agenda sobre a de Bibi.

Os líderes, que já se reuniram duas vezes antes de assumir o poder, procuraram não criticar um ao outro. “Eu o respeito e quero vê-lo em Washington”, afirmou Bibi. “Quero trabalhar com ele”, disse Obama.

SOLUÇÃO DE DOIS ESTADOS

Ainda ontem, o ministro de Defesa israelense, Ehud Barak, deu indicações de que Bibi poderia estar pronto para aceitar a solução de dois Estados. “Acho que Netanyahu dirá a Obama que este governo está pronto para um processo político que resultaria em dois povos convivendo em paz”, disse Barak para a rede de TV Canal 2.

 

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