Casal Obama tenta dar toques inovadores a jantares oficiais

Fonte: Terra –
É uma velha tradição, um jantar na Casa Branca regido por rituais e protocolo que também serve como o mais quente dos eventos sociais de Washington. Mas em seu primeiro jantar de Estado, na noite de terça-feira, o presidente Barack Obama e sua mulher, Michelle, tentaram oferecer um toque pessoal ao evento.

Contrataram uma nova florista, Laura Dowling, que decorou a tenda montada no jardim da Casa Branca para o jantar com ramos de magnólias cultivados na região. O chef escolhido foi Marcus Samuelsson, do Aquavit, em Nova York, cidadão norte-americano mas nascido na Etiópia e criado na Suécia, cuja culinária é um cadinho de sabores e estilos.

Eles convidaram estudantes locais para assistir à chegada dos convidados de honra, o primeiro-ministro indiano Manmohan Singh e sua mulher, Gursharan Kaur, e ofereceram entretenimento musical variado que incluía a Orquestra Sinfônica Nacional, a cantora e atriz Jennifer Hudson, o cantor de jazz Kurt Elling (de Chicago), e A. R. Rahman, o compositor indiano autor da trilha de Slumdog Millionaire.

Nas mesas, o cardápio sem carnes incluía uma mistura de pratos indianos e norte-americanos prestigiados, entre os quais alguns oriundos da culinária negra; couve e camarões ao curry, grão-de-bico e quiabo, pão de milho e de trigo foram servidos aos 320 convidados, entre os quais alguns conhecidos republicanos e cidadãos proeminentes da comunidade indiana dos Estados Unidos. A entrada foi uma salada de rúcula cultivada na horta da Casa Branca, e a sobremesa uma torta de abóbora. (Os Obama aprovaram o cardápio depois de experimentá-lo na Casa Branca no domingo, disse Samuelsson.)

E é melhor não esquecer a louça: para um governo que gosta de elogiar publicamente a cooperação entre os partidos, o que poderia ser melhor que uma combinação eclética entre a porcelana da era Clinton e a da era Bush? ¿Ele quer estabelecer um tom diferenciado, disse Vishkala Desai, nascido na Índia, presidente da Asia Society e um dos convidados. “Obama quer celebrar não só suas origens negras mas a diversidade cultural do país. E essa é uma poderosa mensagem cultural ao mundo”.

Obama recebeu os convidados falando hindi e elogiou as contribuições de Mohandas Gandhi e de Martin Luther King, afirmando que “gigantes” como eles eram “a razão para que nós dois possamos estar aqui esta noite”. Singh respondeu declarando que “sua jornada até a Casa Branca conquistou a imaginação de milhões de indianos”.

A noitada foi uma mistura poderosa de política, diplomacia e glamour, com uma mistura de doadores de fundos de campanha aos democratas, legisladores, membros do gabinete, dignatários indianos e celebridades de Hollywood em trajes de gala. A primeira dama usava um vestido sem mangas dourado, criado pelo estilista Naeem Khan, um norte-americano de ascendência indiana.

Para Obama, o jantar também representava uma rara pausa no cansativo trabalho de governar, e permitia que exibisse seu papel como líder mundial (e anfitrião gracioso) em um momento no qual trava batalhas amargas quanto à reforma da saúde e as guerras no Afeganistão e Iraque – e tudo isso enquanto perde prestígio nas pesquisas de opinião pública.

A lista de convidados incluía as atrizes Alfre Woodard e Blair Underwood, os cineastas Steven Spielberg e M. Night Shyamalan, a escritora Jhumpa Lahiri, o ex-secretário de Estado Colin Powell, o republicano Bobby Jindal (governador da Louisiana) e Indra Nooy, presidente-executiva da Pepsi.

“Isso permite que ele se posicione acima das atuais disputas políticas, desempenhe seu papel como chefe de estado e mostre às pessoas a estatura da presidência”, disse a historiadora presidencial Doris Kearns Goodwin, que recordou que o mais famoso jantar de estado promovido pelo presidente Franklin Roosevelt – em honra do rei e rainha da Inglaterra- aconteceu durante a Grande Depressão.

“É uma forma de escapar às preocupações diárias”, disse Goodwin. “É o momento que os Estados Unidos reservam a esse tipo de cerimônia, à pompa e circunstância, e sempre em clima apartidário”.

O presidente Ulysses Grant ofereceu o primeiro jantar de Estado na Casa Branca, tendo como convidado de honra o rei David Kalakua, das ilhas Sandwich (hoje conhecidas como Havaí), em 1874. Ao longo das décadas, os jantares sempre foram usados como forma de recompensa a aliados importantes e para fomentar relações diplomáticas. Sua frequência varia a depender do presidente (George W. Bush só ofereceu seis deles, enquanto Bill Clinton ofereceu mais de 20).

Os Obama imediatamente se distinguiram de seus predecessores imediatos, ao optar por oferecer o jantar sob uma grande tenda montada no gramado sul da Casa Branca, o que permitiria receber mais convidados. (Bush realizou todos os seus jantares em espaços fechados, o que limita o número de convidados). E enfatizaram alguns de seus temas favoritos, entre os quais a presença de ambos os partidos, a diversidade e a alimentação saudável. O presidente convidou diversos republicanos importantes, embora o senador Mitch McConnell, líder do partido oposicionista no Senado, e o deputado John Boehner, o líder republicano na Câmara, não tenham podido comparecer. (O democrata Harry Reid, líder da maioria no Senado, também não conseguiu ir).

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