O charme, a sedução e a magia de Beagá na florada dos ipês

Por: FÁTIMA OLIVEIRA

Belo Horizonte vive o espetáculo da florada dos ipês roxos. Depois virá a dos amarelos, dos brancos… Mimos da natureza anunciando dias mais frios, o inverno. Quem se toca quer compartilhar tanta beleza, como Marco Antônio, a quem dedico estas “mal traçadas linhas”, que, na entrada do campus da Saúde, atapetada de flores roxas de ipê, em êxtase emocionante, disse que alguém precisava escrever sobre a beleza esplendorosa dos ipês, que deixam a cidade linda, e que todo mundo deveria sair às ruas para admirar.

 

Concordei e sorri. A magia que as flores dos ipês exercem sobre ele desnuda que os cirurgiões, ao contrário do que corre à boca miúda, não são insensíveis, poetam quando se quedam à admiração do belo. Nem consegui dizer-lhe que tentar até tentei, mas não encontro palavras que descrevam o quão acariciante é Beagá florida de pompons de ipê e nem sei quantas vezes saí pelas ruas para apreciar o deslumbre dos ipês floridos! Fato que eu guardava “in pectoris”, pois, imersa na correria pela sobrevivência e nos infortúnios com os quais nos deparamos todos os dias, considerava “quase feio” confessar que me dou ao luxo de vagabundear mirando ipês floridos!

Fui para casa pensando no tempo em que eu não conhecia ipê, só pau d’arco, madeira de lei, planta do mato mesmo, que no sertão do Maranhão o povo chama de “podarco”. Lá não é comum podarco na rua, no jardim ou no quintal. Adorava “catar” flores de podarco para enfeitar sapucaias, quando ia a pé para a casa do tio Vicente Bodó, no Centro do Hermínio. Na estrada havia “podarco”, sapucaia e pente-de-macaco aos montes… Ai, ai, os jardins de Versailles perdem! Garanto.

Não foi sem surpresa que descobri, no meu primeiro julho em Beagá, que ipê era “podarco”! Pasma, admiti não ter percebido o tanto de pau d’arco que há em Beagá. Mas vovó Maria, mal desceu do carro na praça da Liberdade, acunhou: “Viiixe Maria, esse povo de cidade grande inventa cada uma, até podarco tem plantado nessa praça!”. Retruquei: “Ora vovó, e por que não? As flores são tão bonitas! Sabia que aqui o nome dessa planta é ipê?”. Ela não conteve a irritação: “Pode até ter esse nome aqui, mais isso é podarco, menina! Conheço demais. Já tomei muita garrafada de podarco. É santo remédio pra muitas doenças. Até para doença feia (câncer)”.

O clima só amenizou quando perguntei pela Floripes, dizendo-lhe que era um nome que significava “flor de ipê”. Como ela amava contar e ouvir estórias, engrenei a “lenda do ipê”, dos índios Carajás. O cacique Iacan e a índia Iaran juraram amor eterno embaixo de um pé de pau d’arco encantado, pois gemia em noites de lua cheia. Anos depois de casados, não conseguiam ter filhos. A tribo pressionava por herdeiros e ele relutava em abandonar Iaran, que decidiu suicidar no rio.

Ao se despedir do pau d’arco aos prantos, surgiu uma mulher de vestido verde com flores brancas, amarelas, rosas e roxas, que disse ser “o espírito das plantas de enfeite”; fora transformada naquela árvore que não dava flores nem frutos, mas que as lágrimas de Iaran, estéril como ela, regaram suas raízes, quebrando o encantamento. Disse que para que Iaran e Iacan pudessem gerar filhos deveriam, a cada lua cheia, enfeitá-la com flores das cores do vestido que ela usava. Assim foi feito e nasceram os gêmeos Iaacan e Floripes. E todos foram felizes para sempre. E, desde então, os ipês floriram para sempre; e quando florescem, suas folhas caem, deixando os buquês nos galhos em formato de arcos.

Fonte: O Tempo

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