Fátima Oliveira: O sonho da Sibéria maranhense, nas barrancas do Tocantins

por Fátima Oliveira

O sonho pelo Maranhão do Sul remonta à República dos Pastos Bons, proclamada em várias ocasiões, tendo até carta constitucional e bandeira, cujo marco é 1817, conforme Carlota Carvalho em “O Sertão: Subsídios para a História e a Geografia do Brasil” (1924).

É uma luta herdeira também da ideia do Estado dos Pastos Bons (1900), de Leão Leda (Leão Tolstoi de Arruda Leda): “Um Estado livre e independente que englobasse o território de Boa Vista do Tocantins (Tocantinápolis), antigo norte de Goiás, até Pastos Bons, no Maranhão”, segundo Mário Ribeiro Martins, em “Tolstoi e o Padre João (Quem foi Leão Leda?)”.

O Maranhão do Sul engloba 49 dos 217 municípios maranhenses, 1,1 milhão de habitantes e concentra 25% do PIB – gusa, grãos, celulose, couro, gesso e o maior rebanho bovino do Estado -; é uma saga separatista que incorpora o ideário do juiz de paz de Grajaú, Militão Bandeira Barros, participante da Balaiada (1838-1841) – revolta popular decorrente da insatisfação do interior, da gente do sertão preterida em favor do litoral – e que relançou o Manifesto da República dos Pastos Bons, pela separação do Sul do Maranhão.

A construção da Belém-Brasília arrancou Imperatriz do marasmo imposto pelo desprezo do Palácio dos Leões. Em 2001, foi instalado o Comitê Pró-Criação do Maranhão do Sul. Um projeto do novo Estado, do deputado Sebastião Madeira (PSDB-MA), atual prefeito de Imperatriz, foi apresentado na Câmara dos Deputados. Falam que, em 2007, o Senado aprovou um plebiscito.

Em movimento, a Frente Parlamentar pelo Maranhão do Sul, a bordo do projeto de Decreto Legislativo nº 231/2011, do deputado Ribamar Alves (PSB-MA), pela realização do plebiscito, tramitando desde 6 de junho passado.

Para Edmilson Sanches – vereador e candidato a prefeito de Imperatriz em 2012, pelo PCdoB, organizador da “Enciclopédia de Imperatriz” (2002) e intelectual de proa do Maranhão do Sul, Imperatriz, e, por tabela, a região Tocantina, – “era considerada a ‘Sibéria Maranhense’, pelo que havia de distância e de atraso em relação à capital do Estado e, até, a outras cidades. Nessa época, dizem, a rarefação populacional só era alterada pela chegada de funcionários públicos, que para cá eram transferidos geralmente como forma de punição ou em atendimento a interesses políticos contrariados. A transformação de mal-assombrada corrutela em bem-amado polo de desenvolvimento começou na década de 60”.

A minha família materna está em Imperatriz desde 1973. Para o meu avô, onde “corre dinheiro” é o lugar de o pobre “escapar”, seja pegando no “pesado” ou na “pena” (caneta-tinteiro). A construção da Belém-Brasília, a estrada de JK pra onça passar, transformou a Sibéria maranhense num Eldorado. Por ser um lugar bom pra ganhar a vida, “forasteiros”, de todos os cantos do Brasil e de vários países, lá se estabeleceram, transformando aquele rincão num caldeirão cultural, onde a cultura maranhense é pouco presente.

A cidade incrustada nas barrancas do Tocantins chegou ao que é sem dever homenagem ao Palácio dos Leões, daí o sentimento generalizado de extorsão: “São Luís só subtrai, nunca soma. Fica no venha a nós e ao vosso reino nada!”. A pergunta que nunca me fiz é se sou a favor ou contra a criação do Maranhão do Sul. Jamais fui contra, pois é uma aspiração legítima, além do que nenhum ocupante do Palácio dos Leões, exceto Jackson Lago, que era pró Maranhão do Sul, diante do sentimento separatista, moveu uma palha pela integração.

Fonte: O Tempo

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