Maria de Magdala, a santa Maria Madalena, ícone feminista

O boato de que Maria de Magdala, contemporânea de Jesus de Nazaré, era prostituta, “pecadora pública arrependida”, não se sustenta em relatos bíblicos nem em pesquisas. Em um contexto em que a participação da mulher na sociedade judaica era restrita à sua casa e aos mandamentos da Lei, ela foi discípula de Jesus e proeminente liderança na Igreja primitiva. Ela é uma figura fascinante, e é um dever feminista resgatar seu verdadeiro papel na história da humanidade.

Por: Fátima Oliveira

Para Chris Schenk, da Congregação das Irmãs de São José e diretora da FutureChurch, “a inclusão de mulheres por parte de Jesus em seu discipulado itinerante pela Galileia não é nada menos do que notável. No judaísmo palestino, os homens não falavam publicamente com as mulheres de fora do seu círculo de parentesco, e, muito menos, lhes era permitido viajar com eles em uma comitiva mista”.

Mercedes Lopes, em “Maria Madalena e as Outras Marias”, diz: “Nos evangelhos, ela é a mulher mais citada pelo nome; aparece realizando funções muito importantes para as origens do cristianismo: como discípula de Jesus (Lc 8,1-3); como testemunha da sua crucifixão (Mc 15,40-41; Mt 27,55-56; Lc 23,49; Jo 19,25); como testemunha do seu sepultamento (Mc 15,47; Mt 27,61); como testemunha da sua ressurreição (Mc 16,1-8; Mt 28,1-10; Lc 24,1-10; Jó 20,1;20,11-8); e como enviada aos 11 com uma mensagem de Jesus (Mt 28,10; Jo 20,17-18). Ela é citada em primeiro lugar em todos esses textos. A única exceção é Jó 19,25, em que a mãe de Jesus aparece em primeiro lugar”.

Chris Schenk, na entrevista “Maria de Magdala, a grande ‘Apóstola dos Apóstolos'”, é elucidativa: “As mulheres muito raramente eram nomeadas em textos antigos. Foram nomeadas porque tinham alguma proeminência social e, mesmo assim, na maioria das situações, são nomeadas em relação aos homens presentes em suas vidas: maridos, pais ou irmãos… Mas, quando Maria de Magdala é identificada, foi nomeada pelo povoado de onde veio, não em relação a um parente do sexo masculino… Isso significa que Maria de Magdala era uma mulher rica de recursos independentes”.

Na história do cristianismo, Maria de Magdala foi minimizada, ocultada e também ofuscada pelo marianismo.Estudiosas feministas, em especial teólogas, como Mercedes Lopes, aventam que “essa confusão a respeito de Maria Madalena pode ter muitas causas… A deturpação da figura dela mantém uma velha atitude de suspeita em relação às mulheres, passando a ideia de que sua natureza e seus corpos são espaços perigosos, de possessão demoníaca, identificados com pecado. Os corpos inferiorizados e culpabilizados são mais facilmente submetidos”.

Margaret George, autora de “Maria Madalena – A Verdadeira História de Maria Madalena e Jesus Cristo” (Geração Editorial), declara: “A ideia de que Jesus e Maria Madalena eram amantes ou casados volta à baila de vez em quando, mas nunca foi levada a sério, pelo menos, não pelos mais sérios estudiosos do assunto. Penso que houve algum tipo de relacionamento entre eles, do tipo espiritual; afinal de contas, foi a ela que ele apareceu no jardim na manhã da Páscoa. Minha velha tia-avó, que conhecia a Bíblia em detalhes, tinha a própria teoria de que era Maria Betânia que Jesus amava, e se levarmos em conta as passagens nas quais Maria Betânia está sentada a seus pés – acho que ela tem razão -, parece haver mais ‘vibrações’ entre eles do que entre Jesus e Maria Madalena. Naturalmente, com um material tão escasso, é difícil tirar conclusões”.

 

 

Fonte: O Tempo

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