Estudo mostra que maioria da população paraense é formada por negros

Estado colonizado por portugueses, negros e índios, o Pará fechou a primeira década do século XXI com uma população em que os negros representam a maioria, com mais de 76% do total de habitantes, número registrado pelo Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Nesta segunda-feira (19), véspera do Dia Nacional da Consciência Negra, foi divulgado um estudo sobre o perfil do negro paraense, baseado nos dados sobre essa população no Estado, realizado pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará (Idesp), em parceria com o Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará (Cedenpa).

Segundo o estudo, em termos percentuais o Pará tem o maior número de negros em todo o país, e em números absolutos ocupa a quinta posição. No entanto, mesmo sendo a maior parcela da população, os negros ainda sofrem com o tratamento desigual. O estudo aponta que trabalhadores negros recebem 60% menos do que os brancos.

O IBGE utiliza a metodologia de autodeclaração para contabilizar os habitantes por raça/cor. Desse modo, a população brasileira pode ser classificada em brancos, pretos, pardos, amarelos e indígenas. O Censo registra ainda aqueles que não declararam sua raça/cor (Sem Declaração).

O trabalho do Idesp e do Cedenpa agrega os grupos pretos e pardos em uma única categoria, a raça negra. Os pesquisadores entendem que a maioria dos pardos tem ascendência africana, além de existirem proximidades estatísticas, em termos de indicadores socioeconômicos, entre os dois grupos.

No Brasil, em 2010, considerando-se uma população de 190 milhões de pessoas, os negros já somavam 96.795.294 – mais de 50% do total de habitantes do país. No Pará, o percentual superior a 76% de negros é bem maior que a média nacional, e representa quase 5,9 milhões de pessoas em uma população superior a 7,5 milhões.

Nas 12 Regiões de Integração do Pará – espaços com semelhanças de ocupação, nível social e dinamismo econômico, nos quais os 144 municípios formam grupos que mantém a integração entre si, física e/ou economicamente -, os negros são maioria. A maior proporção é observada na Região de Integração Rio Caeté (nordeste do Estado), onde os negros totalizam mais de 82% da população. A região com menor percentual, porém não menos expressivo, é a do Tapajós (no oeste), com uma população negra superior a 70%.

Rendimentos – O Censo de 2010, realizado quando o Salário Mínimo era R$ 510,00, aponta que, em se tratando de rendimentos, a situação do Pará é inferior à renda média nacional, principalmente para os negros. Enquanto o rendimento médio de um trabalhador branco, no país, é de R$ 1.019,65, no Pará a média é de R$ 665,42. Para o trabalhador negro, a situação é ainda mais desigual. No Brasil, a média de rendimentos é de R$ 517,44 para esse segmento, e no Pará fica em R$ 405,24.

Ao analisar os dados conforme o gênero, o resultado é mais preocupante. Enquanto no país a mulher branca recebe remuneração de R$ 745,73 – valor superior até ao recebido pelo homem negro -, a mulher negra ganha em média R$ 387,89. No Pará, segundo o estudo, as trabalhadoras brancas recebem R$ 485,69, e as negras ganham R$ 292,51.

Nas Regiões de Integração a maior diferença ocorre na Metropolitana (formada por Belém e mais cinco municípios), com a população branca recebendo R$ 409,67 a mais do que os negros. Na Região de Integração Marajó a diferença é de apenas R$ 44,94. As duas regiões apresentam, respectivamente, a maior e a menor renda média do Estado.

Educação – Em relação à educação, os números analisados sobre pessoas com 15 anos ou mais, não alfabetizadas, indicam que há mais de 15 milhões de analfabetos no Brasil, o equivalente a 10,46% da população. Entre os negros, esse percentual sobe para 14, 30% (10.302.667 pessoas), e entre os brancos fica em 6,47% (4.563.880 pessoas). No Pará, entretanto, estas taxas estão mais próximas. A taxa de analfabetismo geral chega a 12,60% – 13,46% de negros e 9,32% de brancos.

De acordo com os dados sobre desigualdade educacional por raça nas Regiões de Integração, em todos os casos existe um maior número de analfabetos negros em relação aos brancos. A Região com maior percentual de analfabetos é a do Marajó, com 24,18%. Entre os negros, o percentual é de 25,14%, e entre os brancos, 19,45%. A Região de Integração com menor número de não alfabetizados é a Metropolitana, que atingiu o percentual geral de 3,84%. Entre os negros, os analfabetos chegam a 4,19%, e entre os brancos, 2,86%.

O estudo sobre o perfil do negro no Pará, elaborado pelo Idesp e Cedenpa, visa colaborar para a sistematização de ações que contribuam para o desenvolvimento da sociedade paraense, a partir de uma maior conscientização dos problemas que atingem a população negra, permitindo que instituições oficiais e não governamentais possam trabalhar com o objetivo de encontrar soluções para o cenário atual.

Texto:
Fernanda Graim – Idesp
Fone: (91) 3321-0644 / (91) 8207-4334
Email: [email protected]

Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará
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