Mulheres às ruas contra o estatuto do nascituro

Manifestações de mulheres em todo o Brasil repudiaram o estatuto do nascituro, PL que transita pelo Congresso e foi aprovado na primeira comissão. Em São Paulo, cerca de 1.500 pessoas estiveram na Praça da Sé, em ato que reuniu a diversidade de grupos feministas da cidade.

por Terezinha Vicente

As falas de algumas lideranças contam da indignação que toma conta do movimento de mulheres com o avanço do conservadorismo, inclusive dentro dos poderes da República. Abaixo, algumas fotos e falas do ato público de SP, realizado no sábado, na Praça da Sé.

SAM 2421-02aee

Mais uma vez as mulheres estão nas ruas, e é bom lembrar que tem mulheres se manifestando em todo o Brasil contra o Estatuto do Nascituro que é, na verdade, uma declaração de ódio às mulheres, declaração de genocídio, pelo fim das mulheres. Quem inventou esse estatuto odeia as mulheres. Nascituro é uma farsa, temos que garantir é a vida das mulheres, garantir o direito das mulheres decidirem se querem ou não ser mães, pelo fim da maternidade obrigatória! Nós queremos que todas as crianças que nasçam sejam desejadas, amadas pela mãe e pelo pai, não queremos que sejam filhas de estupradores, lutamos contra a violência à mulher, estupro é crime! Não aceitamos bolsa estupro! Queremos a legalização do direito ao aborto! Amelinha Teles – União de Mulheres

SAM 2425-9422d

Falo em nome de milhões de mulheres católicas que estão passando por uma situação de perda da vida por conta da criminalização do aborto. Quero dizer que a IC devia ter muito mais atenção não só a vida do embrião, das células que nem se sabe se vão nascer, e muito mais atenção à vida das mulheres, que estão vivas. Uma mulher gestante com câncer, por exemplo, não vai poder fazer tratamento, a vida daquele conjunto de células vai valer mais do que a vida dela, uma mulher que sofre estupro vai ter que conviver com o seu estuprador. Nós de CDD não fazemos apologia do aborto, não queremos o aborto, mas se a gente quer que as mulheres parem de morrer, se queremos diminuir o número de abortos, temos que lutar pela legalização do aborto no Brasil! Regina Juerkewicz – Católicas pelo Direito de Decidir

Esse projeto legaliza o machismo e o patriarcado! Nossa luta e mobilização vai seguir e nossa voz vai ecoar por esse Brasil afora, por esse mundo afora, e esse projeto não vai passar! E nós vamos seguir na luta pela descriminalização do aborto, pela legalização do aborto. Nossa luta é muito antiga, tem vários séculos e milênios, só vamos sair das ruas quando tivermos garantido todo nosso direito à autonomia e igualdade! E no que se refere à sexualidade, nós dizemos NÃO ao modelo que o patriarcado e o capitalismo nos impõe, dizemos SIM para a expressão do erotismo e do desejo das mulheres, seja nas relações heterossexuais mas também no direito à sexualidade lésbica, queremos garantir o exercício livre da nossa sexualidade! Nalu Faria – MMM (Marcha Mundial das Mulheres)

Falam de útero, sem ter útero, falam da periferia sem nunca ter ido lá. Nós mulheres negras somos a base de tudo, é trata-se de uma questão de saúde pública, nossas jovens negras são exploradas e estão morrendo nos hospitais por falta de atendimento! Sonia Santos – MNU ( Movimento Negro Unificado)

Isso (o PL) é a legalização do estupro, crime hediondo, crime de guerra! Não podemos permitir! Se o estupro for legalizado teremos cada vez mais retrocesso. O governo nunca tem dinheiro para dar aumento aos professores, não investe na educação, inclusive sexual e nós vamos pagar a bolsa estupro??!! Que moral das igrejas vai reger a nossa vida? A da Igreja Católica, que protege os padres pedófilos, ou as igrejas evangélicas que protegem aquele pastor da Assembléia de Deus do RJ que estuprou diversas mulheres?? É com essa moralidade que eles querem reger nossa vida??!! Igreja tem que fazer proselitismo é dentro do templo! Márcia Balades – LBL (Liga Brasileira de Lésbicas)

SAM 2415-c1db6

Não dá para as igrejas fazerem nossas escolhas, o Estado fazer nossas escolhas, os homens fazerem nossas escolhas. O que está em jogo é o avanço do conservadorismo, não dá mais para falar do avanço, mas sim da institucionalização do conservadorismo na política brasileira! Eles ocuparam todos os espaços e tem ditado as regras, em nome dessa governabilidade, tem várias câmaras municipais por aí aprovando um monte de leis parecidas com o estatuto do nascituro, e os movimentos sociais tem sido muito criminalizados. O que esse estatuto faz é criminalizar a luta da mulher! Laura Cymbalista – PSOL (Partido Socialismo e Liberdade)

SAM 2413-5732e

Esta opressão, mais uma, que estão querendo colocar sobre nós vai acabar com o nosso direito sobre o próprio corpo; o corpo é nosso, sobre ele somos nós que decidimos. A CUT já explicitou nossa posição sobre esta questão, as mulheres tem que decidir! CUT (Central Única dos Trabalhadores)

O momento é muito importante, a cidade de São Paulo está indo às ruas, o Brasil inteiro está indo às ruas, o movimento feminista está aqui fazendo a mesma coisa, lutando por nossos direitos! A violência contra as mulheres, contra os homossexuais, não para de crescer. O estatuto do nascituro vem na contra-mão da possibilidade de avanços em nossos direitos. Temos que exigir que a presidente Dilma vete esse estatuto! Movimento Mulheres em Luta (Conlutas)

SAM 2448-e229d

Querem impor os valores de uma religião sobre outras religiões e sobre quem não professa religião alguma. O estatuto do nascituro é a ponta do iceberg! O retrocesso está se dando em vários campos. Tivemos recentemente o avanço deles na área da saúde provocando a retirada de uma campanha e a demissão da pessoa responsável por ela; querem determinar, contra conclusões dos psicólogos, o que é doença, querem impor a cura gay! Não estamos mais na Idade média quando se queimavam as mulheres como bruxas! Rachel Moreno – Observatório da Mulher

É mentira dizer que as mulheres da periferia são contra a legalização do aborto. É mentira dizer que as mulheres da periferia não fazem aborto, elas fazem e são as criminalizadas por isso, por terem que fazer um aborto clandestino, ilegal e inseguro. Ana Rosa – Movimento Olga Benário

SAM 2294-dbcdc

É um brutal ataque aos direitos das mulheres, esse estatuto do nascituro é a legalização da tortura e da morte das mulheres, é a legalização da violência da convivência da mulher com seus violentadores. Temos que lutar pelo aborto legal, seguro, gratuito, pois infelizmente até agora a presidenta Dilma demonstrou que não vai legalizar o aborto, manteve o acordo Brasil-Vaticano feito pelo presidente anterior. Rita Frau – Grupo de Mulheres Pão e Rosas

Queremos dizer para esses governantes, principalmente para os que estão no Parlamento, dizer não a esse retrocesso que ofende de forma vergonhosa a nós, mulheres. Nós não podemos jamais aceitar que isso aconteça num país que se diz democrático! Rozina Conceição – UBM (União Brasileira de Mulheres)

O estatuto do nascituro é a grande pancada dos misóginos, eles disseminam o ódio contra as mulheres em nossa sociedade. Nós vamos derrotar esses conservadores que querem dizer que 52% da população não tem o direito de ser pessoa, de ser sujeito. A nossa luta é de pessoas que acreditam na sua autodeterminação, que acreditam na autodeterminação dos povos, que querem uma sexualidade livre, uma sociedade livre! Sonia Coelho – SOF (Sempre Viva Organização Feminista) 

SAM 2442-bac1f

Fonte: Ciranda

+ sobre o tema

para lembrar

A menina negra que não vimos

   ARTICULANDO GÊNERO, RAÇA E EDUCAÇÃO: A menina negra que não...

Imagem de jovens negros usando beca de formatura faz sucesso nas redes

Fotógrafo Matheus Leite quis mostrar como brancos ainda são...

Há 92 anos, nascia Paulo Freire

“Não basta saber ler que Eva viu a uva....

ECA-USP adota cotas raciais

Cursos como jornalismo e editoração vão receber estudantes cotistas em...
spot_imgspot_img

Geledés participa do I Colóquio Iberoamericano sobre política e gestão educacional

O Colóquio constou da programação do XXXI Simpósio Brasileiro da ANPAE (Associação Nacional de Política e Administração da Educação), realizado na primeira semana de...

Aluna ganha prêmio ao investigar racismo na história dos dicionários

Os dicionários nem sempre são ferramentas imparciais e isentas, como imaginado. A estudante do 3º ano do ensino médio Franciele de Souza Meira, de...
-+=