Na última terça-feira foi publicada no Questão de Gênero uma enquete com algumas perguntas sobre o aborto, com o objetivo de compreender o que os leitores da Revista Fórum pensam sobre o assunto. A enquete teve a participação de 2.551 pessoas, com predominância das mulheres. De acordo com as palavras e frases atribuídas, a maioria dos participantes enxergam mulheres que abortam como pessoas guerreiras e corajosas. Palavras relacionadas a dor, sofrimento, confusão e dificuldades foram muito comuns, assim como “liberdade” e suas variações. Foram poucos os adjetivos moralmente negativos e a maioria dos participantes expressou empatia e compreensão.
Algumas coisas são particularmente curiosas nos resultados: embora 175 pessoas tenham dito que o aborto deve continuar sendo crime, apenas 85 acham que quem fez um aborto deve ir para a cadeia. Seria interessante ouvir o que essas pessoas têm a sugerir ou explicar a respeito de seus posicionamentos. Mas o que é absolutamente assustador é que 2% dos participantes acham que uma mulher que aborta e tem complicações de saúde merece morrer.
É interessante como os resultados mostram um número tão significativo de leitoras e leitores pró-legalização, que compreendem o aborto como uma questão de escolha e direito das mulheres sobre seus corpos. Até porque a lei brasileira já dá o direito ao aborto em casos de estupro ou risco de morte para a mãe; ou seja, seria redundante para os movimentos sociais lutar pela legalização do aborto por qualquer razão além da livre escolha.
Com isso em mente, a enquete tinha o objetivo de conhecer o posicionamento moral, empático e político dos leitores. Veja a seguir os resultados da enquete na íntegra:
É preciso compreender que quando o movimento feminista fala em descriminalização do aborto, a reivindicação é pelo aborto por escolha, devidamente regulamentado. Ou seja: se uma mulher fizer sexo consentido com alguém, descobrir que ficou grávida e não tiver condições de ter uma criança, o aborto deve ser uma alternativa. O ponto mais importante a ser mencionado é que, de certa forma, essa opção já existe: para as ricas, está nas viagens ao exterior ou nas clínicas que poderá pagar para abortar em sigilo; para as pobres, nos utensílios e substâncias químicas que podem levá-las à morte.
Não adianta encarar o assunto com hipocrisia ou fantasias: o aborto é uma realidade e continuará a ser praticado quando necessário, ainda que seja considerado crime. O que é preciso se questionar é se as mulheres devem continuar morrendo por conta de abortos clandestinos, ou se merecem acompanhamento médico legal e seguro para amparar suas necessidades.
Algumas indicações de leitura sobre o tema:
Um site com fotos de um aborto real e legalizado – sem nenhum feto dilacerado
http://www.meuaborto.com.br/
As mães também abortam
http://femmaterna.com.br/as-maes-tambem-abortam
Pela defesa da vida através da descriminalização do aborto: uma nota de apoio ao CFM
http://www.elivieira.com/2013/04/pela-defesa-da-vida-atraves-da.html
A mulher que aborta
http://blogueirasfeministas.com/2012/05/a-mulher-que-aborta/
E o desejo de ser mãe, onde fica?
http://amanditas.wordpress.com/2011/09/28/e-o-desejo-de-ser-mae-onde-fica/
Ser a favor da descriminalização do aborto é ser a favor da vida
http://www.feministacansada.com/post/35488631240
Legalizar o aborto no Brasil pelo combate ao genocídio da população negra
http://marchamulheres.wordpress.com/2013/09/25/legalizar-o-aborto-no-brasil-pelo-combate-ao-genocidio-da-populacao-negra/
Fonte: Revista Fórum