Calcinha ‘antiestupro’ causa polêmica nos Estados Unidos

O projeto de um novo produto desenvolvido com a pretensão de impedir estupros levantou, nas últimas semanas, milhares de dólares em doações e gerou polêmica entre feministas nos EUA.

por JOANA CUNHA,

Trata-se de uma calcinha. O protótipo da peça, feita de um tecido altamente resistente, cuja trama não pode ser rompida por lâminas e tesouras, inclui uma espécie de cadeado acoplado à cintura.

A roupa íntima dispensa chaves, mas só pode ser retirada do corpo pela própria usuária, por meio de um segredo que precisa ser memorizado. Se a dona esquecê-lo, pode ficar em apuros quando precisar ir ao banheiro.

A linha inclui itens de vestuário esportivo e modelos com design que lembra calcinhas comuns. A ideia é dificultar o crime e dar mais tempo para a chegada de socorro.

Chamado de AR Wear (as iniciais são para ‘antiestupro’ em inglês), o protótipo foi apresentado no Indiegogo, site que lista negócios empreendedores em busca de financiamento coletivo.

Já levantou mais de US$ 40 mil (R$ 92 mil) e dezenas de críticas de feministas na mídia local.

Segundo os idealizadores, os recursos serão investidos em produção e tecnologia. Os primeiros modelos devem ficar prontos em julho.

O texto de apresentação do projeto diz que a peça transmite ao estuprador a “mensagem clara de que a mulher não está consentindo”. Mas esse conceito desagradou a feministas, que afirmam que os fundadores da ideia “sugerem que a mulher é parcialmente responsável, por não recusar o ato com clareza”.

“Estupradores sabem o que não é consentido. O homem não é burro a ponto de não entender quando a mulher não quer”, afirmou a feminista Louise Pennington em artigo no “Huffington Post”.

A AR Wear responde que não pretende atribuir à mulher a responsabilidade de evitar o crime. “O único responsável pelo estupro é o estuprador. O produto só oferece mais uma ferramenta de defesa.”

O item é recomendado em situações como festas, em que a mulher pode se tornar vulnerável por embriaguez, e viagens a países desconhecidos.

Evitando emitir sugestões sobre como a vítima deve proceder se o agressor estiver armado, a AR Wear diz estar ciente de que sua ideia não será capaz de atingir uma solução universal para o problema.

 

Fonte: Folha de São Paulo

+ sobre o tema

Estamos prontas: os movimentos de mulheres negras passam da resistência ao poder!

Os movimentos de mulheres negras passam da resistência ao...

Luiza Trajano: Basta de violência contra a mulher

A empresária fala sobre a perda de uma funcionária...

Estupro coletivo de espanholas em praia choca o México

Mesmo em um país já acostumado à violência crescente,...

Roda de conversa Grada Kilomba e Djamila Ribeiro

A artista plástica Grada Kilomba, abre a exposição "Desobediências...

para lembrar

Há 20 anos, nenhuma mulher negra ganha Oscar de Melhor Atriz

Estamos perto do Oscar 2022 e, mesmo depois de...

Discriminada, executiva de banco quer preferência em promoção

Segundo a executiva, o banco aproveitou sua licença-maternidade para...

“Ele é agressivo verbalmente e não percebe”

E é muito difícil explicar para ele que a...

Marca incentiva mulheres negras a quebrar padrões de beleza

A afirmação de que "o corredor de beleza do...
spot_imgspot_img

‘A gente pode vencer e acender os olhos de esperança para pessoas negras’, diz primeira quilombola promotora de Justiça do Brasil

"A gente pode vencer, a gente pode conseguir. É movimentar toda a estrutura da sociedade, acender os olhos de esperança, principalmente para nós, pessoas...

Ana Maria Gonçalves anuncia novos livros 18 anos após lançar ‘Um Defeito de Cor’

Dois novos livros de Ana Maria Gonçalves devem chegar ao público até o fim de 2024. As novas produções literárias tratam da temática racial...

Mulheres recebem 19,4% a menos que os homens, diz relatório do MTE

Dados do 1º Relatório Nacional de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios mostram que as trabalhadoras mulheres ganham 19,4% a menos que os trabalhadores homens no...
-+=