“A gente pode vencer, a gente pode conseguir. É movimentar toda a estrutura da sociedade, acender os olhos de esperança, principalmente para nós, pessoas negras“, diz maranhense que é a primeira promotora quilombola do país. Karoline Bezerra Maia vai atuar no Ministério Público do Pará (MPPA) no município de Senador José Porfírio, no sudeste do estado.
Existem treze comunidades quilombolas no município de Moção, no oeste do Maranhão. O povoado Jutaí é uma delas. Para chegar lá é preciso uma viagem de uma hora de navegação pelo rio Pindaré.
No área remanescente de quilombo vivem pessoas descendentes de pessoas negras que foram escravizadas em fazendas produtoras de cana de açúcar que usavam o rio Pindaré para escoar a produção.
O pai da promotora Karoline Bezerra Maia é remanescente de quilombola. “Ela é, de fato, a primeira pessoa, ligada de história, de sangue, de chão e de ancestralidade ao quilombo. Primeiro caso que chega ao ponto alto do judiciário, à promotoria pública”, confirmou o historiador Ronilson Souza.
A nova promotora no Pará saiu da comunidade ainda criança, quando começou a ser alfabetizada. Ao ser levada do comunidade quilombola pela família, ela continuou os estudos no Pará.
Ela é ex-aluna do projeto Identidade, iniciativa da associação nacional dos procuradores da república, implementada pela Fundação Pedro Jorge e que contou com o apoio da Educafro, uma organização não governamental que tem a missão de promover a inclusão da população negra.
A notícia da conquista alcançada por Karoline se espalhou por Monção, e no quilombo Jutaí o orgulho é mais forte que em qualquer lugar do município. “Felicidade, muita felicidade. É uma honra. Dá esperança para que aconteça com outras pessoas também”, disse a lavradora Karoline Avelina ao saber da conquista da quilombola.
O mesmo rio que foi o caminho de Karoline é o trajeto de pequenos estudantes. As crianças viajam cerca de 12 km de barco até outra comunidade maior para estudar, mas não desistem do sonho de também mudar de vida.