Fora da toma – Por: Fernanda Pompeu

Imagina que depois de alguns anos, neste Carnaval, consegui a proeza de saltar fora da minha mesa de trabalho para me distender e me alongar no colo da mamãe Natureza. Tempo providencial para terminar de ler a biografia do Rubem Braga – o príncipe dos cronistas, escrita por Marco Antonio de Carvalho. Também uma oportunidade para fazer o melhor de tudo, ou seja, nada.

Quando recebi o convite, quase recusei. Pois me alertaram que no paraíso de destino, a represa de Ibiúna, não pegavam Wi-Fi, 3G, rádio, satélite. Pergunta: Como assim, ficarei desconectada? Resposta: Sim, ficarás desinformada, descompartilhada, descurtida, descomentada. Fiz as contas: quatro noites e três dias sem internet! Blackout.

No entanto, ando num momento corajoso. Fiz a mochila sem computador, tablet, celular. Fui e fosse o que Deus e o Diabo quisessem. Nos dois primeiros dias tudo correu Love. Sol, sombra, brisa, água fresca e de coco. Lembrei que meu pai, sujeito informado e culto, dava a mínima para o mundo digital. Estaria ele certo?

Mas no terceiro e último dia de santa preguiça e divina natureza, o pernilongo da paranoia me picou, causando a ardência-ansiedade típica de sua mordiscada. Nessa noite briguei com o sono. Vieram os medos: Será que os amigos do Facebook se esqueceriam de mim? Quem sabe aquela renomada Editora teria me enviado uma mensagem pedindo resposta urgente.

Não só isso. Veio a sofreguidão de talvez estar perdendo algumas notícias espetaculares. Exemplos: a proibição de engordar galinhas de forma cruel e artificial. O esfacelamento do império Sarney no Maranhão. Um acordo de paz entre palestinos e israelenses. Zero por cento de mortes nas estradas brasileiras.

Passaria a minha vida lamentando ter perdido essas notícias em primeira mão. No futuro, quando amigas e amigos comentassem suas impressões, meio envergonhadamente, confessaria: Não soube na hora. Estava desconectada. As pessoas então diriam: Que pena! Você perdeu o calor do momento.

Fim do feriado. Entrei em casa, subi correndo as escadas. Antes de desfazer a mochila, liguei o computador. Naveguei por alguns portais, só notícias de Carnaval, iguaizinhas às do ano passado. No Face, ninguém perguntou por mim. Fui para o e-mail, expectativa. Que nada! Só rolou spams.

Fonte: Yahoo

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