Afirmação da cultura negra na capital

Por: Tássia Martins

Turbante e outros acessórios resgatam tradições africanas em Brasília

A Afrikanus é uma marca brasiliense de acessórios artesanais inspirados na cultura africana que incentiva mulheres negras a afirmarem sua ancestralidade. Nascida no Sudão e residente no Brasil há três anos, a criadora da marca Romisa ElKarim, de 23 anos, sempre se interessou pelo comportamento da mulher negra. Ela conta que a Afrikanus surgiu do desejo antigo de mostrar a cultura do continente africano a partir das perspectivas de beleza e moda. “Tem vários jeitos de as pessoas aprenderem sobre a África. Eu escolhi apresentar de uma maneira mais leve”, explica.  A ideia se desenvolveu de maneira espontânea. No começo, apenas os tecidos africanos eram vendidos. Só depois a produção incluiu faixas, colares, brincos e outros acessórios.

A maior parte dos tecidos usados nas criações de Romisa vem da Nigéria, Angola e Camarões. Segundo ela, cada um, por meio das cores e estampas, representa o lugar de onde se originam, como o kente. Proveniente do Império Axanti em Gana, é considerado um dos tecidos mais importantes do oeste africano e, no passado, era utilizado apenas por autoridades políticas para representar a etnia. Romisa explica as cores que o compõe: o amarelo representa a fertilidade, o verde a natureza, o preto a conexão com os ancestrais e o dourado a riqueza.

O turbante é o grande sucesso da marca. Historicamente, teve vários usos: na África, indica posição social, religiosidade e ainda é referência para a identificação das  tribos. A diversidade de tecidos e amarrações o torna acessório versátil. As clientes que compram as “coroas” (como são apelidadas as peças) participam da ação “Rainhas Afrikanus”, descrevendo como o adereço as fazem se sentirem melhores. O objetivo é mostrar a força da mulher negra, conectá-las ao passado histórico e afirmar a etnia.

Quem apoia a ideia

Um dos eventos que recebe essa e outras marcas de produtos africanos é o Encrespa Geral. Iniciado em São Paulo e espalhado por todo o Brasil, o Encrespa já tem edições em países como Irlanda, Inglaterra e Austrália. O projeto propõe a valorização do cabelo natural (crespo, cacheado ou ondulado) como forma de autoconhecimento. Ao tratar disso, reflete também sobre a invisibilidade do negro em espaços da sociedade, debate sobre a consciência negra e combate o racismo.

Em Brasília, os encontros tinham tom mais informal e reuniam pequenos grupos, mas foram aumentando com o tempo. A última edição, que ocorreu em setembro deste ano, contou com mais de 150 participantes. O evento trouxe oficinas de turbante, tranças, maquiagem para pele negra e penteados. Dinâmicas e palestras trataram do tema dessa edição: hierarquia das texturas. Uma das organizadoras, Brenda Lima, vê a importância de reforçar que as mulheres negras não precisam mudar seus fios, alisando-os para se encaixarem no padrão de beleza vigente. “Depois de tanta luta continuamos vivenciando, a cada dia, a mesma imagem de que há cabelo melhor do que o outro”, diz.

O projeto possui também o Encrespa Kids, que procura restaurar e construir a autoestima de crianças e adolescentes negros que não se veem representados na mídia tradicional. Por meio da contação de histórias e desfiles de modinha infantil, a iniciativa tem fortalecido a aceitação e a afirmação da etnia também entre os mais jovens.

Fonte: Campus

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